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Lenha, estacas, moirões, dormentes, carvão vegetal, chapas de fibras e de partículas, movelaria, energia, medicamentos, serrados, laminados, celulose e papel. A lista dos subprodutos do eucalipto e do pinus é longa, mas além da diversidade do uso, as florestas de árvores são também sustentáveis e um bom negócio. Com 9 milhões de hectares de áreas plantadas, 4,7 milhões deles certificados, o setor capturou cerca de 1,88 milhão de toneladas de CO2 em 2019 e garantiu receita de R$ 97,4 bilhões em 2020, crescimento de 12,5% em relação ao ano anterior. Boa parte vem do saldo da balança comercial, que chegou a US$ 10,3 bilhões, o segundo melhor resultado dos últimos 10 anos. Os dados são da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ). “Na indústria florestal, as boas práticas ambientais sempre foram condições básicas para o sucesso do negócio, mas agora as informações estão mais estruturadas e servindo à tomada de decisões”, afirmou Marcelo Schmid, sócio diretor no Grupo Index.

Mesmo com as dificuldades de 2020 o setor gerou receita de R$ 97,4 bilhões

O começo da plantação em escala no Brasil é incerto. Com mais de 700 espécies conhecidas, registros apontam que as primeiras culturas de eucalipto por aqui datam de 1868, no Sul do País. A cultura de pinus, mais recente, é da década de 1960, no Sul e Sudeste. E foi nos estados sulistas que a produção comercial primeiro se estabeleceu. O local não foi aleatório. De acordo com Schmid, nos anos 60 houve um esforço conjunto da região para o desenvolvimento da indústria com ações como isenção de impostos para investidores e a criação do primeiro curso de engenharia florestal do País, na então Universidade Federal do Paraná. De lá para cá, o setor passou por diversas fases. Salta aos olhos a mudança do modelo exploratório para o sustentável. “Cerca de 5% da Mata Atlântica chegou a ser devastada e tivemos muito uso de nota fria para comercialização da madeira ilegal, mas na virada do milênio o cenário mudou”, disse o sócio diretor do Grupo Index.

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Com 9 milhões de hectares plantados setor capturou 1,88 milhão de toneladas de CO2 em 2019

Impulsionado pela necessidade de maior produtividade, menor custo e alinhamento às boas práticas sustentáveis, o setor restaurou mais de 32,7 mil hectares e preservou outros 6 milhões de áreas nativas. Na Klabin, uma das maiores da indústria, são 258 mil hectares de floresta plantada para fins industriais e 248 mil de áreas nativas. Além disso, a plantação é feita em forma de mosaico, permitindo a criação de corredores de conservação da biodiversidade. Pelos relatos da empresa, em suas terras existem mais de 2 mil espécies de flora, 900 de fauna e um balanço de carbono de 4,7 milhões de toneladas (2019). Para garantir alinhamento dos fornecedores, que hoje participam com 30% das madeiras utilizadas no processo produtivo, a Klabin tem a meta de ter toda a cadeia certificada com o selo FSC (sigla em inglês para Conselho de Manejo Florestal) até 2030. “Exigimos uma atuação responsável, com respeito à comunidade, aos trabalhadores e uso racional dos recursos naturais”, afirmou Júlio Nogueira, gerente de Sustentabilidade e de Meio Ambiente da companhia. Tudo para garantir a perenidade dos negócios no longo prazo e a atratividade perante os mercados compradores que estão preferindo adquirir produtos renováveis, recicláveis e biodegradáveis. “O ser humano está mais consciente e sustentável no seu consumo”, afirmou Nogueira.

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Neste mesmo caminho está a Suzano, que após a fusão com a Fibria se tornou a maior produtora de celulose do mundo. Com investimentos de R$ 300 milhões em Pesquisa e Desenvolvimento, a companhia está buscando novas tecnologias para ser mais produtiva, bem como para oferecer produtos alternativos aos de origem fóssil. “O grande desafio é fazer com que a celulose seja usada para a produção de outras mercadorias que não o papel”, disse Marcelo Bacci, diretor executivo de Finanças, Relações com Investidores e Jurídico da empresa. Na lista de possibilidades estão energia, tecidos e substitutos do plástico. Além de novos produtos, a Suzano já anunciou compromisso público de capturar 40 milhões de toneladas de CO2 nos próximos dez anos. “Em nosso setor não há dicotomia entre eficiência e ESG. Quanto mais ambientalmente correto você é, mais eficiência você ganha”, afirmou Bacci. Tudo isso em paralelo com a atividade core, que acaba de ganhar reforço de uma nova fábrica com capacidade de produzir 2,3 milhões de toneladas de celulose no ano, fruto de um plano de investimento de R$ 14,7 bilhões no Mato Grosso do Sul.

Na esteira da necessidade da comprovação das boas práticas, surgem no mercado startups com vocação para ajudar o agronegócio. Como o caso da GenomaA Biotech, especializada em rastrear toras por meio do DNA da madeira. “O setor madeireiro tem uma mácula de seis décadas de ligação com ilegalidades e desmatamento”, afirmou Pedro Dias, diretor de Inovação da empresa. O executivo tem razão. Ainda que o setor profissional esteja cada vez mais alinhado com os princípios sustentáveis, a ilegalidade acaba manchando a reputação. Em seu último levantamento (2018), o Imazon pontuou que o desmatamento em áreas não autorizadas no Pará era duas vezes maior do que em áreas autorizadas: 27 mil hectares contra 11 mil hectares. No Mato Grosso, apesar de as áreas autorizadas serem maiores, a taxa de ilegalidade ainda é alta. Em 2019, dos 217 mil hectares explorados, 37% foram em áreas sem autorização. Problemas que podem ser até pontuais, mas com potencial impacto devastador sobre um setor que poderia levar o País à liderança da economia verde.

“Exigimos [dos fornecedores] uma atuação responsável, com respeito à comunidade, aos trabalhadores e uso racional dos recursos” Julio Nogueira Klabin (Crédito:Divulgação)