São Paulo, 15/12 – A difícil crise enfrentada pelo setor leiteiro neste ano pode ser um fator de grande desestímulo à produção em 2018. A queda drástica dos preços no segundo semestre do ano prejudicou as margens dos produtores, informa a pesquisadora Natália Grigol, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), em artigo para o Boletim do Leite, divulgado nesta sexta-feira, 15.

Conforme ela, em 2017, dois fatores dissonantes protagonizaram a dinâmica do setor: consumo enfraquecido e aumento da produção. O resultado dessa incompatível combinação foi uma contínua queda de preço no campo. De janeiro a novembro, a baixa atingiu 18,2% na “média Brasil” do Cepea (que inclui BA, GO, MG, SP, PR, SC e RS, sem frete e impostos). “Vale destacar que o preço de novembro (R$ 1,0003/litro) foi o menor desde fevereiro de 2010”, ressalta Natália.

Para uma parcela mais vulnerável, os preços do leite em baixos níveis acabam estimulando o abate de fêmeas e a gradual transição para o mercado de corte, por meio da mudança de padrão genético do rebanho e cria de bezerros. Para outra parcela, a menor receita se traduz em diminuição dos investimentos direcionados à produção.

Segundo a pesquisadora, com a receita limitada neste ano, muitos pecuaristas não fizeram a reforma das pastagens, o que pode contribuir para a perda de volume e qualidade da produção no ano que vem. Assim, tem-se instaurado a “montanha russa” de preços na cadeia láctea nos últimos anos: com sucessivos desencontros entre oferta e demanda e poucas medidas para diminuir as fragilidades do setor.

Muitos assuntos devem entrar na pauta de discussão do setor em 2018, como a ampliação das negociações com o mercado externo; a necessidade de se elevar a qualidade da matéria-prima; as políticas de pagamento por qualidade; a transparência das negociações entre os elos da cadeia; a necessidade de se elevar o nível de gestão de fazendas e indústrias; a importância de se estimular o consumo de lácteos e a criação de políticas públicas de longo prazo para o setor.

“O caminho, com certeza, é árduo, mas o contínuo processo de organização e profissionalização do setor (resultado das dificuldades enfrentadas nos últimos anos) dá bons sinais de que a mudança começou”, pondera Natália.