2004 parecia ser o ano perfeito. A fábrica da Kepler Weber, fabricante de silos e equipamentos para armazenagem, em Panambi, no Rio Grande do Sul, operava a todo vapor. A demanda estava para lá de aquecida, tanto que em novembro a empresa inaugurou a segunda fábrica em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Até aquele momento, os ventos estavam favoráveis, mas o efeito do câmbio e a baixa do preço das commodities derramaram um balde de água fria na companhia no último mês do ano. Justamente quando a segunda unidade entrava em operação, o mercado se retraiu. Para piorar, 2005 foi o ano da seca no Sul do Brasil, que causou uma quebra de mais de 50% na produção de grãos da região. Conseqüência: o produtor ficou sem condições de quitar as dívidas e a Kepler, até então líder de mercado, mergulhou em uma crise sem precedentes. Só para se ter uma idéia, a empresa fechou 2006 com um prejuízo de R$ 249,9 milhões.

Na seqüência, em junho de 2007, a companhia entrou com pedido de recuperação judicial no 1º Juizado de Falências e Concordatas de Porto Alegre. Mas em agosto do mesmo ano, a Kepler avançou na reestruturação financeira e pediu o cancelamento da recuperação judicial. Com isso, mudou sua estrutura acionária, conseguiu novos aportes, alongou a dívida e converteu créditos em capital. Com a finalização da reestruturação em setembro passado, a companhia teve um aumento de capital de R$ 330 milhões e reduziu a dívida financeira para R$ 153,7 milhões. O último trimestre do ano também foi marcado por alta na receita líquida, que atingiu R$ 60,6 milhões. O lucro bruto de 2007 foi de R$ 11,2 milhões e o prejuízo consolidado recuou de R$ 249,9 milhões em 2006 para R$ 9,4 milhões em 2007.

 

 

 

 

 

 

 

FERNANDES FILHO: “No primeiro trimestre de 2008, registramos o dobro de clientes em relação ao mesmo período do ano passado”, diz

Para este ano, as perspectivas são ainda mais promissoras, já que a alta do preço das commodities tem levado os produtores às compras. “Neste primeiro trimestre de 2008 já registramos o dobro da carteira de clientes que em relação ao mesmo período do ano passado. Se todos os trimestres forem iguais a esse, será muito bom”, diz Anastácio Fernandes ilho, presidente da Kepler Weber. Segundo analistas do setor, o primeiro semestre foi atípico, já que geralmente os agricultores só compram na pós-colheita, ou seja, no segundo semestre. Atualmente, a empresa está trabalhando com 80% da capacidade da fábrica de Panambi e 10% em Campo Grande. No entanto, havendo demanda, a companhia tem condições de atuar em plena carga nas duas unidades, que juntas podem produzir 100 mil toneladas de aço por ano. O aquecimento do mercado, inclusive, tem motivado novas contratações. Em 2005, a Kepler Weber chegou a ter 2 mil empregados, em setembro passado estava com 750 e hoje está com 1,1 mil funcionários e perspectivas de novas contratações. “Devemos crescer mais um pouco, mas não voltaremos ao patamar de 2005 porque mudamos os processos e não precisamos do mesmo efetivo”, diz Fernandes Filho.

Este aspecto é um dos grandes trunfos da companhia. As fábricas foram repensadas em termo de lay-out e performance operacional para otimizar o ganho e reduzir o custo. Além disso, a Kepler tem investido na satisfação do cliente, não só em termos de qualidade, mas em relação ao prazo de entrega e assistência técnica. Para esse ano, a expectativa é faturar o dobro de 2007. E há chances de atingir o faturamento recorde de 2004, R$ 418 milhões, já no ano que vem. “De repente, com melhor eficiência operacional, conseguimos um resultado ainda melhor que o de 2004”, diz Fernandes Filho.