Pode parecer estranho, mas a maioria dos chocolates que os brasileiros e chocólatras de todo mundo conhecem não tem gosto de cacau. E sim de um doce feito com base de pasta de cacau, manteiga de cacau e adoçantes e que é acrescido de leite em pó, quando a escolha é por chocolate ao leite. Uma família carioca, no entanto, está disposta a mudar essa história. Ao fundar a Chocolates Q, Luiza, a matriarca, e os filhos Rafael, Samantha e Rodrigo Aquim assumiram como missão de vida democratizar o sabor do fruto e, tão importante quanto isso, disseminar a informação de que o melhor chocolate do mundo não está na Suíça e não tem relação nenhuma com vaquinhas ou com alpes coberto com neve. “O melhor cacau do mundo está aqui e é colhido no meio da exuberância da Mata Atlântica”, disse o sócio Rodrigo Aquim.

FAMÍLIA AQUIM Unidos pelo propósito de mostrar que o melhor chocolate do mundo é o brasileiro (Crédito:Divulgação)

A história do Chocolate Q surgiu de maneira pitoresca. Dona de um catering de sucesso no Rio de Janeiro, a família resolveu abrir uma loja – um tipo de empório – com diversos produtos servidos no buffet, inclusive chocolate. O produto ganhou um prêmio como o Melhor Chocolate do Rio de uma revista local. Foi o suficiente para que uma associação do Sul da Bahia, que produzia cacau de forma artesanal e de alta qualidade, fosse prospectar o possível cliente. Depois da primeira reunião, lá em 2008, o vendedor olhou para Samantha, a chef de cozinha do negócio, e disse: “Você não acha estranho vender o melhor chocolate do Rio de Janeiro sem nunca ter conhecido um pé de cacau na vida?”

Três semanas depois, Samantha estava na Bahia. Lá conheceu a Fazenda Leolinda, do produtor João Tavares. Voltou ao Rio com algumas inquietações que levou para a família. A primeira delas é que o chocolate não tinha gosto de cacau, o que mostrava uma grande desconexão entre produtores e indústria. A segunda, que o fruto nativo do Brasil é da variedade Forasteiro, o mais consumido do mundo, e que os pés estão no meio de plantas nativas da Mata Atlântica. E, finalmente, que a relação do produtor com o fruto é diferente de tudo que imaginava do agronegócio. “Ela chegou encantada com a paixão que sentiu naquelas pessoas que faziam do cacau seu propósito de vida e determinada a entrar no ramo. Só não sabíamos como”, afirmou Aquim.

Fazendo uma longa história curta, foi assim que nasceu a ideia do que é hoje o Chocolates Q. “Durante nossas buscas, chegamos a ter mais de 1 mil barras do mundo inteiro e não achávamos o que queríamos”, disse Rodrigo. Mas havia algumas pedras no meio do caminho. A principal delas é que eles não tinham fábrica para produzir a mercadoria como achavam que seria ideal.

“O melhor cacau do mundo está aqui e é colhido no meio da exuberância da Mata Atlântica” Rodrigo Aquim

Foi quando João Tavares entrou em cena mais uma vez. Encantado com a proposta da chef, o produtor falou com Samantha que havia conversado com amigos e que ela poderia fazer os testes para chegar ao chocolate que tanto queria na fábrica Nugali, em Santa Catarina. E para lá ela foi.
É ainda nessa fábrica que são produzidos os chocolates finos da Q. O modelo de negócio, no entanto, foge dos formatos convencionais. Inspirada pelas pequenas butiques seculares da Europa, a família quer manter o negócio tradicional, único e exclusivo em toda a experiência.

Além do nome incomum, as barras de chocolate foram desenhadas por Oscar Niemeyer e o primeiro produto feito para educar o mercado era embalado em caixa de madeira com seis variedades para degustação: do chocolate comercial até o 100% Chocolates Q. O preço era R$ 800. Hoje, no site da empresa, variam de R$ 30 a quase R$ 400. “Descobrimos o universo do cacau e queremos apresentá-lo ao mundo”, afirmou Rodrigo.