Não é apenas a produção de soja que deve bater recorde em 2014. A safra de recursos voltados para o campo deve ser a maior dos últimos anos. Além dos recursos subsidiados, os bancos estão ampliando suas carteiras de crédito rural e as securitizadoras aumentaram as emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) para atender ao crescente apetite dos investidores. Em 2013, esse instrumento de renda fixa, que garante antecipação de recursos ao produtor e uma rentabilidade isenta de impostos ao investidor, cresceu 161,8%, para R$ 969 milhões. No fim de janeiro, o total emitido de CRAs já ultrapassava R$ 1,12 bilhão. Parte desse avanço se deve a uma operação de R$ 85,5 milhões estruturada pela Octante Securitizadora para financiar o Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro, que reúne cooperativas de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Outra operação que acaba de sair do forno é a da Gaia Agro, que emitiu R$ 32 milhões em CRA para a trading de café e algodão Inter Agrícola. “É uma novidade fazer essa operação com uma trading”, afirma João Pacífico, diretor do Grupo Gaia. “O interessante é que a trading está tentando conquistar a exclusividade dos fornecedores ao oferecer esse benefício.” Já a Brasil Agrosec participou de uma operação de R$ 34 milhões estruturada pelo banco holandês Rabobank para financiar produtores rurais da cooperativa de insumos agrícolas Cooplantio, de Eldorado do Sul (RS). O volume de CRA será bem maior em 2014”, afirma Clídio Carvalho, diretor da Brasil Agrosec.

Fernanda Mello, diretora da Octante, estima que o CRA vai alcançar o mesmo volume dos Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) dentro de alguns anos, devido ao peso do agronegócio na economia. No ano passado, o CRI atingiu  $ 45 bilhões. Se os CRAs movimentassem esse mesmo total, representariam 23,5% dos R$ 191,7 bilhões demandados pelos produtores, segundo estimativa da Confederação Nacional da Agricultura. Esse valor inclui crédito rural, dinheiro dos agricultores e financiamento dos bancos privados.

Além do líder incontestável, o Banco do Brasil, os bancos privados fizeram a sua parte. O Bradesco, por exemplo, viu sua carteira de crédito rural ficar mais robusta, saltando 21,2% em 2013, para R$ 8,39 bilhões. No Itaú Unibanco, o avanço foi de 10,5%. Esse caminho faz parte da estratégia de tornar a carteira de crédito menos exposta a operações consideradas arriscadas. O BB, que já era líder no financiamento do agronegócio, conseguiu ampliar ainda mais a sua participação no segmento, em 2013: o financiamento voltado para o setor atingiu R$ 144,8 bilhões, alta de 34,1% em relação a 2012. Com isso, o BB passou a deter 66,1% do mercado, segundo dados do Sistema Nacional de Crédito Rural. “Na safra 2013- 2014, já desembolsamos 60% da nossa meta, de R$ 70 bilhões”, afirma Ivan de Souza Monteiro, vice-presidente de gestão financeira e relações com investidores do BB. Segundo Aguinaldo Barbieri, gerente-executivo da diretoria de mercado de capitais e investimentos do BB, o CRA é um complemento dessa atuação do banco no agronegócio. “Esperamos, em 2014, fazer o dobro de emissões, mas vai depender das condições de mercado”, afirma Barbieri.

A chuva de recursos pode até tirar empresas endividadas do aperto. Um fundo de investimentos em participações está sendo estruturado para comprar usinas de açúcar e álcool em recuperação judicial, no interior de São Paulo e no Nordeste, e sanar os seus balanços. “Fomos procurados por dois grupos que querem ser os aglutinadores desse processo”, afirma Fernando Hoirman, sócio da gestora Camargue Capital, sem, no entanto, revelar o nome das usinas. “A ideia é captar R$ 200 milhões e comprar algo entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões em ativos.” No ano passado, o grupo Clealco foi o único que protocolou uma proposta de compra de uma usina em recuperação judicial, a Companhia Açucareira de Penápolis – Usina Campestre. Procurado pela DINHEIRO RURAL, o grupo afirmou desconhecer o assunto.