Os chilenos Gabriela Mistral e Pablo Neruda, o colombiano Gabriel Garcia Márquez, Miguel Astúrias, da Guatemala, Octávio Paz e Garcia Robles, do México, os argentinos Saavedra Lamas, Perez Esquivel, Cesar Milstein e tantas outras personalidades latino-americanas já foram contemplados com o Prêmio Nobel. Mas, na história da renomada premiação internacional, que teve início em 1901 e já agraciou 847 personalidades e 22 organizações das áreas de química, física, literatura, medicina, paz e economia, nenhum brasileiro foi reconhecido.

No ano passado, durante um bate-papo entre o usineiro Maurílio Biagi Filho, do grupo Maubisa, de Ribeirão Preto, no interior paulista, e o diretor-executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), David Roquetti, durante o Jantar de Gala da Agrishow, evento que tradicionalmente precede a feira, a responsabilidade pelo fiasco histórico foi discutida. “Infelizmente, nosso país não valoriza tanto a pesquisa”, disse Roquetti. Juntos, eles chegaram à conclusão de que era preciso lançar novos projetos com o intuito de reconhecer a ciência brasileira. Foi a partir dessa conversa que surgiu a ideia de criar o Prêmio Brasil Agrociência. Segundo Roquetti, os cientistas são os grandes responsáveis pelos ganhos de produtividade na agricultura e na pecuária registrados nos últimos anos, o que o leva a acreditar que, com o incentivo, o número de pesquisas relacionadas ao setor pode avançar. “Vamos fomentar, prestigiar e mostrar toda a nossa gratidão a esses heróis anônimos que tanto contribuem para o agronegócio brasileiro”, diz Roquetti.

Biagi Filho, que é presidente da agrishow, convidou Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas e ex-ministro da Agricultura, José Luiz Tejon Megido, coordenador do Núcleo de Agronegócios da ESPM, e Maurício Mendes, ex- presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio, para formatar o novo projeto e supervisioná-lo. “Há muitas pesquisas escondidas pelo Brasil, que não chegam ao conhecimento do grande público”, diz Biagi Filho. “A ideia é fazer com que elas ganhem notoriedade.” O prêmio será estruturado para contemplar um total de cinco pesquisas, nas seguintes categorias: zootecnia, fitotecnia, economia rural, engenharia agrícola e sustentabilidade. “Vamos premiar pesquisas com conteúdo técnico relevante e aplicabilidade”, diz Biagi.

O prêmio será lançado durante a noite de Gala da Agrishow no dia 27 de abril, em Ribeirão Preto, um dos principais polos canavieiros do interior do Estado de São Paulo. Durante o lançamento, serão anunciados os nomes dos integrantes do Conselho de Notáveis responsável por avaliar e selecionar os trabalhos que serão premiados. Com curadoria de Sivio Crestana, ex- presidente da Embrapa, o conselho contará com personalidades ligadas ao agronegócio, como os ex-ministros da agricultura Antônio Delfim Netto, Alysson Paulinelli, Luiz Fernando Cirne Lima e Marcus Vinicius Pratini de Moraes.

Para Biagi Filho, a Agrishow e a pesquisa têm tudo a ver. “É importante valorizar a pesquisa dentro da Agrishow”, diz. Segundo ele, há uma parceria de longa data entre a feira e entidades como a Embrapa e o Instituto Agronômico de Campinas, que são responsáveis pela organização e realização dos experimentos práticos de campo, que ocorrem durante o evento. Biagi Filho destaca o caráter democrático da Agrishow, cujo foco não se limita aos grandes produtores. “A feira de máquinas atende muitos pequenos agricultores, que são os que mais precisam de tecnologia para avançar em produtividade”, diz.

Inicialmente, já estão garantidos R$ 150 mil para o Prêmio Brasil Agrociência, com o apoio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo, da Sociedade Rural Brasileira, da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, da Associação Brasileira do Agronegócio e da Anda. A primeira edição do prêmio será durante a agrishow de 2015. Até lá, Biagi Filho vai buscar apoio e parcerias com empresas com o intuito de angariar mais recursos para a empreitada. “O objetivo é estimular a produção científica”, diz. “Quem sabe, no futuro, um pesquisador brasileiro do agronegócio possa ser reconhecido com um Nobel?”