O vice-presidente do banco Pine. Norberto Zaiet Júnior, raramente tem tempo para apreciar a paisagem que se vislumbra do alto do 30º andar do edifício em que está instalado o escritório central da instituição que fica em São Paulo, às margens do rio Pinheiros. Nos últimos anos, com o agronegócio responsável por uma fatia cada vez maior no saldo da balança comercial do País, o Pine vem tentando diversificar as suas fontes de financiamento para atuar no setor com mais força. Com isso, a agenda de Zaiet tem ficado repleta de compromissos urgentes nos últimos tempos. Mas o esforço vem dando frutos. no dia 19 de setembro, depois de um ano de trabalho, o Pine anunciou a estruturação de um fundo de Investimento com aporte de R$ 571 milhões em direitoa creditórios (Fidc), baseado em recebíveis da cadeia do agronegócio.

Entenda-se por Fidc um tipo de aplicação na qual a maior parte dos recursos se destina à aquisição de créditos que uma determinada empresa tem a receber, entre eles, por exemplo, duplicatas, cheques e contratos de aluguel. Ou seja, qualquer papel com lastro pode ser transformado em cotas de Fidc negociáveis no mercado financeiro. “O banco sempre teve uma presença forte no campo, mas queremos mais”, diz Zaiet. “O setor tem potencial para ser mais representativo na carteira do banco porque agronegócio está no nosso DNA.”

O banco Pine foi fundado em 1997 pelos economistas Norberto e Nelson Pinheiro, depois de venderem suas participações no banco BMC, hoje incorporado ao Bradesco. Em 2006, o herdeiro Norberto Pinheiro Júnior, de uma família de banqueiros que desde a década de 1940 atua no nordeste do País, assumiu o controle majoritário do banco. No semestre encerrado em junho deste ano, a carteira de crédito do Pine era de R$ 8,9 bilhões, cerca de 18% acima do registrado no mesmo período do ano passado. Por atividades, o açúcar e o etanol representam 14% do portfólio de crédito; a agricultura, 7%; alimentos e bebidas e fumos, 3% cada uma; e processamento de carne, 2%. A ideia de Zaiet e sua equipe é ir além. “O banco sempre procurou diversificar sua atuação no mercado para dar segurança ao investidor”, diz Raquel Varela, superintendente executiva de relações com investidores do Pine. Segundo ela, a carteira de crédito também contempla setores como telecomunicações, materiais de construção, petroquímica, logística, infraestrutura e construção civil, entre outros.

Na operação realizada pelo banco no mês passado, a subsidiária do Rabobank, maior cooperativa de crédito holandesa, adquiriu a totalidade das cotas seniores de Fidc, avaliadas em R$ 400 milhões. A remuneração será de CDI mais 1,67% ao ano, com cinco anos de prazo para amortização. “O Pine foi responsável por originar todos os créditos porque tem capacidade para atrair ativos em real, boa parte deles na cadeia de alimentos”, diz Zaiet. “Já o Rabobank atua de forma mais forte em dólar e nos elos iniciais da cadeia do agro.” A parceria com o Rabobank representa para o mercado uma estrutura alternativa aos meios tradicionais de originação de créditos. De acordo com ele, a escolha do Rabobank foi estratégica em função de sua forte tradição na estruturação e investimento em diversos Fidcs na cadeia de alimentos e do agronegócio. Entre as empresas ligadas ao banco holandês estão Sadia, Perdigão, Pão de Açúcar, Martins, Minerva e Nutriplant, com estruturas muito semelhantes às do Pine Agro. “Vamos explorar alternativas em que sozinhos não conseguimos atuar com a eficiência desejada”, diz Zaiet. A captação para o Fidc foi baseada na instrução 476 da Comissão de Valores Mobiliários e o fundo foi protocolado na agência de rating Fitch, por meio da qual obteve nota a.br.