Os cacauicultores baianos estão vivendo um dilema: não sabem se comemoram ou se ficam preocupados com a produção de cacau do Estado. Até abril, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) da Bahia espera divulgar um recorde de produção na safra 2012/2013, em torno de 170 mil toneladas do fruto. “Foi a melhor safra nos últimos 20 anos”, diz Lindolfo Pereira, pesquisador estatístico do Ceplac. “Com condições climáticas favoráveis, as plantas tiveram um comportamento extraordinário.”

No entanto, a despeito da maior oferta, os produtores não esperam fechar a safra com lucro à altura, devido à queda nos preços. A arroba (15 quilos) de cacau vendida no Estado, cujo preço girava em torno de R$ 80, em junho de 2012, neste ano está sendo vendida por R$ 60. “Os produtores estão no vermelho”, diz Guilherme Galvão, presidente da Associação de Produtores de Cacau (APC). “O custo de produção também está alto, hoje acima de R$ 50 por arroba. Ou seja, o produtor vai ganhar menos que em 2011.”

Segundo Thomas Hartmann, sóciodiretor da TH Consultoria e Estudos de Mercado, de Salvador, os preços são determinados pela Bolsa de Nova York, onde a cotação tem apresentado alta volatilidade. “O mercado internacional está muito incerto”, diz Hartmann. “Não acredito numa recuperação no curto prazo.” Outro fator que contribuiu para esse cenário foi a concorrência da produção estrangeira. De acordo com Galvão, da APC, a indústria processadora de cacau importou muita matéria-prima, o que ajudou a derrubar os preços. Para Walter Tegani, secretário-executivo da Associação das Indústrias Processadoras de Cacau, a razão para o excedente foi um descompasso entre as expectativas da indústria e a realidade. Em abril de 2012, esperava-se uma quebra de safra na Bahia, com produção até 30% menor. Por esse motivo, a indústria firmou contratos para importar 54,8 mil toneladas de cacau, de países como Costa do Marfim, na África.

Mas a Bahia colheu uma supersafra, que se somou às importações planejadas com antecedência. “Foi uma grande surpresa”, diz Tegani. “Para a indústria, importar não é vantajoso. Precisamos de previsões de safra mais confiáveis.” Em média, a tonelada de cacau importada da Costa do Marfim custa US$ 2,6 mil. O valor da arroba do produto estrangeiro é de cerca de R$ 75, sem contar o custo do transporte e tributos.

A superprodução não deve se repetir neste ano. Por conta da estiagem que afetou o Estado, a primeira estimativa da Ceplac é de uma produção de 70 mil toneladas para a safra temporã, colhida entre maio e setembro. Mesmo assim, os produtores estão em alerta e devem pressionar o governo para conseguir medidas de incentivo. “Para a safra 2013/2014, vamos lutar por uma política de preços mínimos para o cacau”, diz Galvão.