Os sojicultores brasileiros se preparam para tirar uma safra recorde do campo. Na temporada 2014/2015, o Brasil deverá colher, numa área de cerca de 31 milhões de hectares, 95,8 milhões de toneladas
de soja, ou seja, 47,5% dos 201,5 milhões de toneladas de grãos estimados. Segundo a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), será um crescimento de 11,2% em relação à
colheita de 86,1 milhões de toneladas na safra 2013/2014. Apesar do tempo seco que atrasou o início do plantio da soja em um mês em Mato Grosso, a safra brasileira não deverá sofrer maiores contratempos, na opinião dos especialistas. “O clima sempre pode trazer surpresas, mas aparentemente já se normalizou e não vai prejudicar a safra”, diz Leonardo Sologuren, sócio-diretor da consultoria Clarivi, de Uberlândia (MG).

Embora os preços da commodity estejam em patamares menores do que os registrados em 2013, a oleaginosa continua sob os holofotes. “A demanda interna continua alta e a soja está remunerando
mais que o milho e outros grãos. Isso é um bom sinal.” A estimativa de preços da Clarivi no período de colheita é de uma média de R$ 60 a saca na região Sul e entre R$ 52 e R$ 55 a saca
na região Centro- Oeste. “Houve uma recuperação na Bolsa de Chicago e fechamos 2014 com uma perspectiva de preço melhor do que a esperada”, afirma Sologuren. Além disso, um fator que vai favorecer os ganhos é o câmbio, com a valorização da moeda americana. “Boa parte da queda no preço foi compensada pela alta do dólar”, diz Glauco Monte, diretor de commodities da consultoria INTL FCStone, de Campinas (SP). “A gente está trabalhando  com um câmbio entre R$ 2,50 e R$ 2,60.” No entanto, uma questão recorrente baterá à porta: os problemas logísticos. Por conta do atraso no plantio, os produtores terão uma colheita concentrada num período mais curto, o que vai pressionar o custo para transportar a soja das regiões produtoras até os portos. “Tivemos um aumento do preço do combustível e vamos registrar uma maior demanda, então é normal esperar que haja um aumento de frete”, diz Sologuren. Por outro lado, segundo o diretor da Clarivi, o produtor não terá prejuízos com uma praga como a lagarta helicoverpa, que devastou lavouras em 2013. “Houve um grande aprendizado no combate à helicoverpa”, diz Sologuren. “É um problema que será controlado e não será tão traumático.” 

A temporada de 2015 será marcada por recordes, porque os três maiores players globais terão grandes colheitas. O principal produtor mundial, os Estados Unidos, registram uma produção de quase 108
milhões de toneladas. O Brasil terá o segundo lugar no ranking, seguido pela Argentina, que deve colher junho de 2015, quando o plantio da nova safra americana vai interferir no mercado internacional. De acordo com Glauco Monte, é possível que os Estados Unidos ampliem a área plantada com soja e tenham uma safra recorde consecutiva, na temporada 2015/2016. “Estoques elevados pressionam os preços do grão para baixo”, diz.

No entanto, a demanda, liderada pela China, seguirá crescendo e pode equilibrar essa balança. A previsão é de que os chineses importem 73 milhões de toneladas de soja na safra 2014/2015, ante os 69 milhões de toneladas compradas na temporada anterior. “É um volume expressivo e crescente”, afirma Sologuren. “Mesmo com a desaceleração da economia, até agora a China não reduziu a sua demanda por soja.” No Brasil, o complexo soja deverá avançar por inteiro. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o País deverá produzir 29,3 milhões de toneladas de farelo de soja e 7,5 milhões de toneladas de óleo em 2015, um crescimento na produção de 4,6% e 4,2% em comparação a 2014, respectivamente.