A Chácara João do Mel, em Belterra, no oeste do Pará, tem perdido milhares de abelhas com o avanço das plantações de soja na região. O modelo de monocultura e o uso de agrotóxicos estão impactando o ambiente e causando o extermínio dos insetos e a inviabilidade da produção de mel como atividade econômica.

O apicultor João Batista Ferreira, proprietário do local, conta à BBC News Brasil que há 20 anos tinha mais de mil colmeias, espalhadas pela propriedade de 16 hectares. Cada uma chegava a ter de 80 mil a 100 mil abelhas jataí, jandaíra e outras espécies nativas. Na época, cada caixa produzia até 6 kg de mel. Atualmente, a produção de cada uma não rende meio quilo.

+ Abelha funerária reconhece cadáver na colmeia pela baixa produção de secreção
+ Troca de abelha rainha mantém a produtividade da colmeia
+ Abelha babá aumenta sua temperatura corporal para cuidar do ninho, diz pesquisa

Para ele, o agronegócio mudou o comportamento e a dinâmica de reprodução desses polinizadores. Com a queda da produção e apenas 100 caixas, o ex-produtor fechou o negócio depois de 40 anos.

Ferreira explica que o fracasso dessa prática tradicionalmente vinculada à cultura indígena, à agricultura familiar e à agroecologia representa um sinal de risco, principalmente à segurança alimentar. Ele também ressalta a falta de fiscalização ao uso desses produtos químicos e diz que são cada vez mais comuns os casos de câncer na região, doença praticamente inexistente antes da expansão dessa cultura agrícola.

Outras propriedades da região estão enfrentando a mesma situação, com queda significativa na quantidade de abelhas. Os produtores alertam que meliponicultura na região já não é mais rentável.