O segundo dia de combate ao incêndio no Parque Estadual do Juquery, na Grande São Paulo, exigiu a combinação de grandes ações, como dois helicópteros da Polícia Militar, e também o combate manual por terra. Cerca de 200 profissionais, entre brigadistas do Parque do Juquery, agentes da Defesa Civil, bombeiros e voluntários, carregaram reservatórios de 20 kg com água nas costas por vários quilômetros para tentar apagar as chamas com o uso de esguichos. A ação é necessária porque os caminhões de água não conseguem chegar aos locais de difícil acesso do parque. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o incêndio ainda não está totalmente controlado.

A prefeitura de Franco da Rocha estima que o incêndio tenha consumido 60% do parque, que possui cerca de dois mil hectares. Na avaliação da Fundação Florestal, responsável pela gestão do local, o estrago é ainda maior e já chega aos 70%. Segundo a prefeitura, o fogo começou após a queda de um balão. Tempo seco e calor favorecem a propagação das chamas. De acordo com o Corpo de Bombeiros, foram registrados 2.708 ocorrências de incêndio na vegetação no Estado de São Paulo em junho. O pico foi em maio com mais de 4.745 incêndios.

O Estadão acompanhou a luta contra as chamas nesta segunda-feira, 23, quando o parque tinha ao menos dois grandes focos de incêndio. Uma das estratégias do Corpo de Bombeiros foi o uso de dois helicópteros que despejaram água nos maiores focos.

As características do parque, no entanto, exigiram grande esforço no combate manual às chamas. Relevo acidentado. Com reservatórios de 20 kg nas costas, os brigadistas tentavam apagar os focos menores com esguichos de água. “É uma ocorrência complexa, que exige muito trabalho manual. É um trabalho de formiguinha”, explica Walkiria Zanquini, tenente do Corpo de Bombeiros.

Outra estratégia para esse combate individual às chamas foram as vassouras de bruxas, instrumentos feitos com borracha reciclada, em geral, restos de madeira de incêndio, para abafar o fogo. “É um local de difícil acesso. Temos pequenos focos que vão destruindo a vegetação. O caminhão não chega e a mangueira não entra”, afirma Adriano Udvari, coordenador do Serviço de Atendimento de Urgência da prefeitura de Caieiras, que montou uma força-tarefa com brigadistas de secretarias municipais para ajudar no combate às chamas.

Dezenas de voluntários ajudaram na tarefa. Um deles foi o vigilante Ulisses Sabino da Silva. Morador do Parque Vitória, em Franco da Rocha, ele viu as chamas no parque na noite de domingo da sua casa. Por isso, decidiu ajudar. “Esse parque é importante para mim. Com caminhadas e exercícios nestas trilhas, consegui melhorar de uma depressão grave em 2017”, diz o vigilante com um esguicho nas mãos. Vários voluntários se ofereceram para ajudar, mas nem todos possuem os equipamentos adequados e acabaram dispensados.

O cenário, no entanto, era desolador. O verde de uma das últimas áreas de preservação do cerrado em São Paulo virou cinza. Dos troncos de árvores queimados restavam apenas a copa das árvores. Ao acompanhar um grupo de brigadistas da Fundação Florestal, o Estadão se deparou com um eucalipto ainda em brasa, com o tronco incandescente. “Não adianta apagar. Ela está condenada”, disse um brigadista.

Cheiro de mato queimado. Fumaça que arde os olhos. Boca seca. Outra árvore tombou na estrada, obrigando os brigadistas a um atalho. “Dá vontade de chorar diante dessa situação”, disse o ciclista Fabricio Carneiro, frequentador do parque e que também estava tentando apagar o incêndio como voluntário.

Criado em 1993 para conservar mata nativa e áreas de mananciais do Sistema Cantareira, o parque também abriga remanescentes de Mata Atlântica entre os municípios de Caieiras e Franco da Rocha. De acordo com a prefeitura de Franco da Rocha, a causa inicial do fogo teria sido a queda de um balão na região próxima ao Parque do Juquery. Em 2017, cerca de 200 hectares – 10% do parque – foram consumidos pelas chamas também causadas pela queda de um balão.