O general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira decidiu se afastar de sua conta do Twitter enquanto permanecer no comando do Exército. “Vou parar”, disse em uma das primeiras decisões no cargo. Desde 2 de abril, Paulo Sérgio não posta mais nada na conta.

A presença de militares nas redes sociais está no centro das discussões sobre a volta deles à política. Só recentemente essa situação foi regulamentada pelos comandantes, apesar de manifestações político-partidárias da ativa serem proibidas pelos regulamentos disciplinares e pelo Estatuto dos Militares.

A conta de Paulo Sérgio foi aberta em abril de 2018, após seu antigo chefe, o general Eduardo Villas Bôas, publicar dois tuítes contra a impunidade, na véspera do julgamento no Supremo Tribunal Federal de um habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Iniciou-se ali um aumento da presença de militares na rede social – 31 generais e coronéis da ativa próximos a Villas Bôas entraram no Twitter, muitos dos quais fizeram propaganda para Bolsonaro em 2018.

Em análise feita em julho de 2019 pelo Estadão, Paulo Sérgio havia sido um dos únicos generais que se mantinham no ambiente digital distante da política partidária, seguindo as normas de uso das redes sociais instituídas naquele mês pelo então comandante Edson Pujol, demitido por Bolsonaro em março.

Enquanto Pujol se mantinha longe do Twitter, Paulo Sérgio publicava 1.969 vezes na rede. A conta do novo comandante tem 99,8 mil seguidores. Ele segue 24 contas, algumas das quais de políticos. Entre eles só há bolsonaristas, como os deputados Carlos Jordy (PSL-RJ) e Bia Kicis (PSL-DF). O Estadão apurou que a decisão de Paulo Sérgio de congelar a conta não é apenas uma cautela diante de manifestações públicas que podem, eventualmente, causar ruídos ora no Planalto ora na oposição.

Oficialmente, o Exército diz se tratar de política de comunicação, que pretende privilegiar o canal da Força no YouTube, com 855 mil inscritos. Ou seja, o distanciamento do comandante do Twitter se faria em nome do reforço da imagem institucional da Força. Foi no YouTube que Paulo Sérgio publicou o primeiro vídeo, com 270 mil acessos. O Exército procurou mostrar continuidade entre os comandos, após a demissão de Pujol.

Sua postura é diversa do novo comandante da Força Aérea, o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior. Já em 2019, Baptista Júnior era o recordista entre os oficiais da ativa com publicações de caráter político-partidário (42 casos). Em 2020, alcançou 80 tuítes em defesa do bolsonarismo. Em 14 de maio de 2019, por exemplo, publicou texto sobre as manifestações de estudantes contra o contingenciamento de verbas da Educação: “Onde estavam estes jovens nos sucessivos contingenciamentos dos governos anteriores?”

Após a posse, o brigadeiro continua ativo, ao ritmo de uma manifestação diária – ele coleciona 28 desde 2 de abril. Um dia antes, republicou crítica da deputada Carla Zambelli (PSL-SP) aos governadores em razão da vacinação contra covid-19. No dia 12, republicou post em que Zambelli se dizia honrada ao seu lado. A parlamentar marcou no tuíte as contas do brigadeiro e de Paulo Sérgio, mas só o aviador reproduziu o texto. O comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, não tem conta no Twitter. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.