Aseca do início deste ano frustrou as expectativas iniciais dos empresários do agronegócio e do governo, de colher uma safra de grãos de 200 milhões de toneladas. Apesar disso, a colheita recorde de
191,2 milhões de toneladas é 1,4% superior à do ano passado e vai permitir a recomposição dos estoques estratégicos brasileiros, garantindo ganhos ao produtor, ao mesmo tempo em que diminui a pressão sobre os preços ao consumidor. “Vamos ter um abastecimento bastante tranquilo neste ano”, diz Paulo Morceli, superintendente de gestão de oferta da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Os estoques dos principais alimentos estão maiores neste ano, em comparação a 2013. E, como os preços também subiram em relação à safra anterior, a maior parte está nas mãos do setor privado, e não nos armazéns oficiais. Por isso, mesmo com o orçamento maior para a compra de estoques públicos, a expectativa é de que os recursos não serão totalmente utilizados. “É pouco provável que precisaremos usar todo esse recurso”, afirma Morceli. (veja quadro).

Um bom exemplo é o do arroz. O estoque de passagem aumentou de 1,69 milhão de toneladas, em 2013, para 2 milhões de toneladas neste ano, o equivalente a dois meses de consumo. Em fevereiro,
época do levantamento da Conab, todo o produto estava na mão da indústria, sinal de que o produtor vendeu no momento certo, quando o preço estava em alta. O estoque de milho também aumentou, de 8,6 milhões de toneladas para 9,4 milhões de toneladas, com a queda nas exportações, em relação ao ano anterior, por conta da retomada da produção nos Estados Unidos. Ainda assim, o volume de cereal exportado é o dobro do registrado há cinco anos. O estoque de soja também cresceu, apesar  do aumento da produção e das exportações, com as restrições impostas aos produtores argentinos. O único produto com estoque ainda baixo, apesar da pequena recomposição, é o trigo. Os armazéns guardam 1,1 milhão de toneladas, o triplo do volume verificado há dois anos, mas ainda insuficiente para garantir tranquilidade no abastecimento. No ano passado, o governo retirou o imposto de importação, mas revogou o benefício neste ano, como parte do estímulo à produção nacional. Na contramão, o feijão apresenta um quadro oposto ao do trigo: o nível de estoques está acima do desejável e já vem sendo reduzido por leilões do governo, que vai desembolsar R$ 100 milhões para adquirir o produto.