“Sou muito conservadora. Trabalho sempre com um planejamento

para que nada dê errado”

KELLY MAS”CARELLO MUFFATO, dona da Comil

Poucas empresas familiares atravessam os momentos de crise sem grandes abalos. No imprevisível mercado de silos, em que, além da competência, é preciso contar também com a sorte – leia-se uma boa safra -, nem se fale. Há mais de 50 anos no mercado, a Comil é hoje uma das maiores empresas do setor e, sem dúvida, uma das mais bem administradas, como mostram os resultados dos últimos anos, período em que alguns de seus concorrentes estiveram à beira da falência. E a principal responsável por isso é a jovem empresária Kelly Mascarello Muffato, de apenas 28 anos, mas que conhece como poucos o mercado de silos, secadores e transportadores de grãos.

Kelly, que assumiu a empresa do pai com apenas 18 anos, conta que no início não era levada muito a sério pelos outros empresários do setor por ser muito nova. Hoje, no entanto, enfrenta até as mais duras negociações com desenvoltura e sentencia: “Este não é um mercado para aventureiros.” E não é mesmo. Tanto que a gigante Kepler Weber, líder do setor, quase quebrou em 2006. Alheia às crises, a empresária segue feliz da vida com os resultados obtidos até julho deste ano, que devem fazer com que o faturamento da Comil cresça até 80% em 2008.

Com a fábrica trabalhando a todo vapor, são consumidas nada menos que duas mil toneladas de aço por mês, o que dá 24 mil toneladas ao ano, tudo negociado diretamente com a Companhia Siderúrgica Nacional. Em tempos de disparada nos preços do aço, esta demanda poderia representar um problema para a empresa, mas, graças ao planejamento, pouca coisa mudou. “A Comil é uma empresa sólida. Mesmo em épocas de crise no setor, sempre estivemos operando normalmente, sem grandes dificuldades”, explica Kelly, que não revela o faturamento de seu negócio, segundo ela, uma praxe de mercado.

“Este primeiro semestre foi atípico. Tivemos vendas acima da média logo no começo do ano, quando o normal seria começar a vender de setembro em diante”, afirma a empresária. Hoje emprega mais de 500 funcionários em sua fábrica em Cascavel, no Paraná, mas vem investindo pesado para aumentar a produção em 40%. Tudo para atender à demanda. Kelly, por sua vez, não se empolga com o bom momento e prefere manter os pés no chão. “É um mercado de altos e baixos, por isso a importância de manter uma empresa enxuta. Sou muito conservadora. Trabalho sempre com um planejamento para que nada dê errado.” Parece que a tática vem dando certo.

MERCADO AQUECIDO: com o bom momento vivido pelo setor de silos, a Comil teve que aumentar sua produção em 40%

Segundo ela, uma das estratégias da Comil para superar os momentos ruins é diversificar. Mesmo sendo vice-líder em vendas no Brasil, a empresa tem no mercado externo seu principal filão. Prova disso é a liderança do mercado no Paraguai há dez anos. “É o nosso principal mercado. Vendemos muito por lá, principalmente para os brasileiros que vivem na região do Alto Paraná”, revela a executiva, que também exporta seus produtos para toda a América Latina e até alguns países da África. Agora, com o mercado interno aquecido, teve de aumentar a produção e abrir um terceiro turno de trabalho. “Não podemos nem pensar em atrasar a entrega dos silos, pois a safra não espera.”