Desde o início do ano, as cotações das principais commodities agropecuária estão caindo nas bolsas internacionais. Embora o dólar tenha avançado, com alta acima de 10% neste ano, chegando a custar R$ 2,27 no fim de julho, a desvalorização do real não ajudou os produtores a encher os bolsos, mas, ao menos, contrabalançou a queda nos preços. Segundo especialistas, é provável que essa tendência prossiga no segundo semestre. De acordo com Leonardo Sologuren, diretor da consultoria Clarivi, de Uberlândia (MG), os preços da soja e do milho se valorizaram muito nos últimos anos em decorrência de problemas que afetaram a produção, como as quebras de safra na Argentina e no Paraguai e, especialmente, da seca que atingiu os Estados Unidos no ano passado. Agora, a safra americana entrará com tudo no mercado internacional a partir de setembro. O país espera uma supersafra acima de 92 milhões de toneladas de soja, cerca de dez milhões de toneladas a mais em relação à safra anterior, e 355 milhões de toneladas de milho, contra os 274 milhões de toneladas colhidas na última temporada.

“Teremos um cenário de preços mais baixos, influenciado pela retomada da produção americana”, diz Sologuren. “Trata-se de uma queda natural dos preços.” O açúcar foi uma das commodities mais afetadas. Segundo cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em janeiro, o preço médio na Bolsa de Nova York foi de R$ 49,13 por saca de açúcar, caindo a R$ 39, em maio, quando iniciou sua recuperação, chegando à média de R$ 43,36 em junho. Para a professora da Esalq, Heloisa Burnquist, os preços do açúcar estão obedecendo ao atual ciclo de baixa. “Em 2008, o estoque mundial estava negativo e isso provocou um aumento de preços, o que estimulou o aumento da produção”, diz. Segundo a professora, é provável que os preços recuem ainda mais no segundo semestre. “Grandes produtores como a Tailândia, a China e o México vão colocar mais açúcar no mercado internacional”, afirma. “Com estoques altos, o preço acaba caindo.” Outro exemplo é o café arábica, que em junho registrou o nono mês de quedas consecutivas nos preços, de acordo com o indicador Cepea/ Esalq. Na capital paulista, a média foi de R$ 285,71 por saca, valor 4% inferior à média de maio.

Para o professor Tharcisio Souza Santos, diretor do Faap MBA, um dos fatores que explicam a queda nos preços é a desaceleração da economia chinesa, um dos maiores importadores de commodities do mundo. “A China já cresceu 14%, agora vai crescer 7,5%”, diz. Sologuren, da Clarivi, concorda. “Já que 80% das nossas exportações de soja vão para a China, ela tem um impacto muito forte no mercado brasileiro sob o ponto de vista da demanda”, diz o consultor. Além disso, o Federal Reserve – o banco central dos Estados Unidos –, está sinalizando uma redução dos estímulos à economia americana,oquegerouefeitos nos mercados. “A aposta na melhora da economia americana valorizou o dólar”, diz o professor Santos.

O movimento de queda das commodities deverá impactar a balança comercial. Em julho, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) revisou as projeções para 2013. A entidade estima que o Brasil vai fechar o ano com exportações de US$ 230,511 bilhões e importações de US$ 232,519, um déficit de US$ 2 bilhões (a previsão inicial era de um superávit de US$ 14,6 bilhões). “Há uma clara tendência de queda nos preços, mas a produção brasileira e as exportações seguem crescendo”, diz o presidente da AEB, José Augusto de Castro. “Mesmo com a concorrência de outros países produtores, torcemos para que o volume exportado pelo Brasil não diminua.”