“As atividades de cooperação tendem a se ampliar com o brasileiro José Graziano na direção da FAO”

Pedro Arraes é presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

O que permitiu à pesquisa agropecuária brasileira adaptar culturas aos diversos tipos de clima e solo, nas principais regiões do Brasil, foi a existência de um grande programa de cooperação internacional, que resultou em material genético de qualidade, expertise e treinamento dos pesquisadores que atuam no País. De cliente e consumidor dessa rede de cooperação, o Brasil tornou-se um grande fornecedor de conhecimentos de interesse da agricultura mundial.

Atualmente, para continuar assegurando a competitividade da agricultura brasileira, a Embrapa mantém um intenso programa de cooperação internacional. Entre os instrumentos de cooperação destaca-se o programa Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior (Labex), pelo qual a empresa aloca pesquisadores em instituições internacionais, atuando em áreas estratégicas para a agricultura nacional.

Pesquisa: material genético, expertise e treinamento para equipes que atuam no País e no exterior

O primeiro Labex foi estabelecido nos Estados Unidos, em 1998. Em 2001, foi criada uma unidade na Europa e a primeira iniciativa na Ásia teve início em 2009 na Coreia do Sul. No primeiro semestre de 2011, foi aberto o Labex China e, ainda neste ano, deverá ser inaugurada uma unidade no Japão. No Cone Sul, a Embrapa trabalha com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura e no Programa Cooperativo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Agrícola para os Trópicos Sul-americanos.

Além do trabalho de cooperação científica, a Embrapa também atua como agente de cooperação do governo brasileiro por meio de projetos em vários países da África e da América Latina. Esses esforços apoiam as demandas da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores. Atualmente, a Embrapa opera por meio de três instrumentos de cooperação técnica.

O primeiro – projetos estruturantes – visa à validação e à adaptação de tecnologias às necessidades dos biomas, das sociedades e das economias dos países e regiões em que os projetos estão localizados. Atualmente, estão em execução cinco desses projetos na África e três na América Latina. Nessa região, a Embrapa estabeleceu, em 2010, por meio de acordo com o governo do Panamá, o projeto Embrapa Américas, que tem o objetivo de facilitar a cooperação com os países da América Central, do Caribe e do norte da América do Sul. Hoje, há 20 projetos em 11 países.

O segundo instrumento refere-se a um centro de estudos inaugurado em maio de 2010, em Brasília. A Embrapa Estudos e Capacitação promove e coordena a realização dos cursos sobre agricultura tropical para técnicos estrangeiros. O centro também coordenará as atividades de capacitação e treinamento propostas pelo governo brasileiro aos países da Comunidade do Caribe.

Por fim, a Plataforma África-Brasil de Inovação Agropecuária, chamada Marketplace, foi concebida para estreitar as relações entre pesquisadores da Embrapa e das instituições de pesquisa africanas. A plataforma recebeu 61 projetos de diversas áreas, em seu primeiro ciclo de chamadas para propostas, em 2010. Dez deles foram selecionados e contam, cada um, com US$ 80 mil para aplicação nos próximos dois anos.

A criatividade na concepção desse formato de cooperação Sul-Sul inspirou uma iniciativa similar para a América Latina, que deve ser implementada ainda em 2011. Finalmente, as atividades de cooperação técnica da Embrapa e outras instituições brasileiras na África e América Latina tendem a se ampliar nos próximos anos, com a presença de um brasileiro na direção da FAO, o agrônomo José Graziano, a partir de janeiro de 2012.