Representando mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB), o agronegócio tem grande importância na economia brasileira. Com todo esse peso, este setor não poderia ficar de fora do debate sobre as iniciativas de responsabilidade ESG (Environmental, Social and Governance ou meio ambiente, social e governança), que vem ganhando manchetes e causando mobilização no mundo empresarial.

Para quem ainda não está familiarizado com o tema, os critérios do ESG evoluíram para uma metodologia de investimento que abrange fatores de sustentabilidade como forma de identificar empresas com modelos de negócios superiores, oferecendo uma visão adicional sobre a qualidade da gestão, cultura e perfil de risco de uma empresa, o que vem influenciando a forma como gestores de ativos e investidores avaliam as carteiras de investimentos.

Trazendo para o mundo do agronegócio, as discussões de sustentabilidade consideram como o setor está se preparando, adaptando e respondendo a diferentes questões, como as mudanças climáticas, a valorização da segurança e das condições de trabalho de seus colaboradores e terceiros, de que forma estão enfrentando a escassez de recursos naturais e quão comprometidos estão com valores éticos e de transparência. Esses são apenas alguns dos focos dessa indústria.

No último Relatório Global de Riscos do Fórum Econômico Mundial, os cinco principais riscos listados que envolvem assuntos de longo prazo estão relacionados às questões ambientais. Junto a esse alerta, a pandemia do novo coronavírus trouxe ainda mais luz e reflexões sobre os riscos aos quais muitos não davam o devido foco. Aliás, riscos ambientais e doenças infecciosas já são citados há alguns anos neste relatório.

Pensando que a indústria agropecuária trabalha fortemente com a manipulação de alimentos, questões sobre contaminação, inspeções de qualidade e controle da cadeia produtiva acabam tendo relação com a segurança dos alimentos e, consequentemente, trazem alertas para a introdução de doenças por este meio. E, considerando o momento em que o mundo está com os olhos voltados para a crise do COVID-19, qualquer ameaça à saúde deve ser amplamente considerada nas análises de risco.

Estamos presenciando um movimento que está ocorrendo no mundo todo. Vemos pressões externas de investidores para a divulgação e o desempenho do ESG, pois as informações contidas apoiam as tomadas de decisão. Em contrapartida, empresas que já fazem uso normalmente se beneficiam de uma forma ampla e contemplam ambientes de controle mais fortes, o que as torna mais atrativas e geram maior retenção de funcionários, que buscam por companhias que impactam positivamente e que tenham um propósito.

Na ponta, clientes estão cada vez mais interessados em comprar de empresas focadas em sustentabilidade e que tenham “produtos verdes”, o que significa um aumento da conscientização do público em geral para problemas relacionados à sustentabilidade.

Felizmente, parte do setor já vem abraçando iniciativas para combater os impactos negativos que geram em função das suas atividades produtivas e de negócio. Muitas já são signatárias de pactos e acordos globais e realizam reportes com base em padrões de métricas e indicadores internacionais, além de buscarem certificações ou reconhecimentos, como o Selo Agro + Integridade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Para um setor tão estratégico como o agronegócio, deixar de considerar os aspectos ambientais, sociais e de governança não é uma opção.

*Daniela Coelho é diretora associada de riscos e performance na ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.