Joesley Batista é um sujeito de gestos calculados. A fala mansa, com um leve sotaque goiano, revela a personalidade observadora do presidente da JBS-Friboi. Seu jeito, no entanto, destoa da agressividade com que conduz a empresa. No final de maio, a companhia, o maior grupo frigorífico da América Latina, comprou a americana Swift por US$ 1,4 bilhão, tornando- se assim a maior empresa de carne bovina do mundo. O lance chamou a atenção no mundo dos negócios. Primeiro porque pouca gente esperava que o grupo nacional desbancasse pesos pesados dos EUA como Tyson e Cargill. Segundo porque cria uma das maiores multinacionais brasileiras. Em 2006, o faturamento conjunto de Friboi e Swift foi de US$ 11,5 bilhões ou cerca de R$ 23 bilhões – valor superior à receita de R$ 17,6 bilhões da Ambev no ano passado. “Agora somos uma empresa global”, disse Joesley à DINHEIRO RURAL. Juntas, as duas empresas passam a abater nada menos que 47 mil cabeças de gado por dia. No negócio, foram adquiridas oito unidades de abate nos EUA e quatro na Austrália, que se somam às 23 plantas brasileiras e cinco argentinas. Ou seja, o Friboi se transformou em uma empresa com 40 fábricas espalhadas pelo mundo. Com a aquisição, a Friboi também ingressa no mercado de suínos, uma novidade nas operações do grupo. Outra estréia dentro da companhia ocorreu uma semana após o negócio com a Swift. No dia 4 de junho, o Friboi comprou seu primeiro confinamento de gado, na cidade paulista de Castilho, com capacidade para engorda de 150 mil animais por ano. Ao custo de R$ 30 milhões, o empreendimento é a primeira iniciativa da empresa antes da porteira. US$ 1,4 Bilhão foi o valor negociado na aquisição da Swift pelo Friboi.

A compra da Swift é o lance mais fantástico de um mercado em tremenda ebulição. Todos os grandes frigoríficos brasileiros avançam ferozmente. O Bertin, segundo maior exportador, acabou de comprar uma planta industrial em Marabá, no Pará, e negocia outras três unidades no Estado. Já Marfrig e Minerva solicitaram o registro de oferta pública na CVM. Capitalizadas e fortalecidas, tais empresas devem sair às compras, aumentando o movimento de concentração do mercado. Hoje, os cinco maiores frigoríficos do País representam 12% do abate de bovinos do País. São eles que lideram as exportações brasileiras, que em 2006 somaram US$ 4 bilhões. Mas, à medida que os frigoríficos se fortalecem, o peso sobre os pecuaristas aumenta. Os criadores reclamam dos preços pagos e dizem que os frigoríficos não socializam os ganhos com as exportações. A relação entre o pasto e a indústria é tão conflituosa que os pecuaristas denunciaram a prática de cartel no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Por outro lado, a compra da Swift significa a abertura na marra do mercado mundial para os produtos brasileiros. “O negócio foi tão genial que eles não só compraram o maior mercado consumidor, os EUA, como o maior concorrente do Brasil, a Austrália”, diz o pecuarista Aramis Maia, que tem rebanhos na Austrália.

JÚNIOR, EXPRESIDENTE: foi ele quem começou o projeto de expansão internacional

De fato, com a Swift, o Friboi escancara o mundo para sua produção. Hoje, boa parte dos países ricos impõe severas restrições à carne brasileira in natura, importando apenas o produto cozido do País.” Como a Swift é uma empresa que atua no mundo inteiro, a aquisição deverá abrir mais canais para a carne brasileira”, acredita Fábio Dias, diretor da Associação Nacional dos Confinadores, entidade que reúne 50 sócios que vão fazer a terminação de 517 mil animais em 2007. Enquanto o Friboi coloca essa gigantesca máquina para funcionar, no Brasil, a empresa prepara outra iniciativa inédita. Falta apenas a aprovação do Banco Central para que a família Batista lance o JBS Banco. A instituição irá financiar os pecuaristas e terá agências nas principais praças de atuação do Friboi. “Vamos oferecer os instrumentos normais de crédito, como a Cédula do Produtor Rural. Mas também queremos cuidar dos investimentos do cliente como pessoa física”, diz o presidente da companhia.

ESTRATÉGIA: empresa cresceu comprando frigoríficos em dificuldade e cortando custos na produção de carne

Essa avalanche de novidades virou uma marca registrada do Friboi, cuja estratégia é simplesmente crescer de forma acelerada. Só em 2004 a empresa comprou nada menos que sete unidades em diversos Estados brasileiros. No ano seguinte, foi dado início ao processo de internacionalização da empresa, o qual incluiu a compra da Swift na Argentina. O apetite global, no entanto, exigia um reforço extra no caixa da empresa. Em março de 2007, os irmãos Batista abriram o capital da empresa e lançaram ações na Bovespa. Na época, foi captado R$ 1,5 bilhão junto ao mercado. O dinheiro foi essencial para o pagamento inicial de US$ 400 milhões da negociação com a Swift – o restante será quitado com recursos captados em uma emissão de bônus nos EUA. O mais surpreendente na aquisição da empresa americana é que o Friboi, que faturou US$ 1,9 bilhão em 2006, acaba de comprar um conglomerado que tem uma receita de US$ 9,6 bilhões. No entanto, esse gigante da proteína animal está afogado em problemas. O endividamento da Swift é de US$ 1,163 bilhão, cinco vez maior que seu Ebtida (lucro antes de impostos, amortizações e depreciações).

BOVESPA: o diretor Sergio Longo (à dir) na emissão de ações na bolsa

“O problema não é uma dívida alta, mas o faturamento baixo”, explica Joesley. De acordo com ele, a empresa irá implementar uma cultura de custos baixos nas unidades dos EUA e da Austrália. “Não é só redução de custo no chão de fábrica. É o hotel mais barato no qual o executivo vai ficar hospedado ou a passagem aérea mais econômica”, revela. No dia seguinte à compra, os irmãos de Joesley foram tomar posse das novas estruturas. Wesley, considerado o homem das operações diárias, seguiu para os EUA.Já José Batista Júnior, ex-presidente da empresa e quem desenhou o projeto de expansão, partiu para a Austrália. Ambos levavam executivos de recursos humanos para mapear as unidades recém-adquiridas. Isso porque na área de gestão de pessoas a imagem da Swift nos EUA estava arranhada. No ano passado, a polícia federal americana autuou mais de mil imigrantes ilegais que trabalhavam nas unidades frigoríficas, expondo ainda mais as fragilidades da empresa. E quanto mais enrolada estava a Swift, maior interesse a empresa despertava nos irmãos Batista. Foi justamente com a compra de frigoríficos endividados no Brasil que o Friboi cresceu vertiginosamente. Por isso, eles ganharam fama de loucos pelo risco. “Não é que gostamos de tomar risco, mas as oportunidades se encontram onde existem problemas”, diz Joesley. Esse sim um homem que só traz solução. FRIBOI DEVE UTILIZAR CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO DA SWIFT PARA AMPLIAR EXPORTAÇÃO DA PRODUÇÃO BRASILEIRA.