São Paulo, 6/9 – O recorde na produção de soja nos Estados Unidos, os avanços na colheita de milho na América Latina e estoques globais elevados para as duas commodities derrubaram as cotações internacionais desses produtos e podem levar a recuos na produção agrícola do Brasil nesta temporada 2017/18, aponta o estudo “Perspectivas para a Agropecuária safra 2017/2018”, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado nesta quarta-feira, 6. “Estes preços trazem um impacto direto para a safra brasileira, que será plantada em níveis abaixo do que se via há alguns anos”, afirma o superintendente de Gestão da Oferta da Conab, Wellington Teixeira, em entrevista coletiva transmitida pelo Facebook.

A poucos dias do início do plantio da safra 2017/18 no País, a expectativa é que a produção de soja atinja 107 milhões de toneladas, ante as 113,93 milhões de toneladas estimadas pela companhia em 2016/17.

Na ponta da demanda, apesar de um incremento significativo nas importações chinesas, as vendas externas do Brasil tendem a crescer somente 1,5%, para 64 milhões de toneladas.

Para os subprodutos do complexo soja, a estimativa é de estabilidade até 2018, visto que a demanda por óleo e biodiesel não deve aumentar, assim como o uso de farelo para consumo animal e industrial.

Por este motivo, os esmagamentos projetados para a safra 2017/18 são de aproximadamente 43 milhões de t e com um consumo interno total girando em torno de 47 milhões de t. Neste contexto, os estoques de passagem ficariam em, aproximadamente, 1,72 milhão de t.

Sobre o milho, Teixeira destaca a entrada agressiva do mercado argentino. “A Argentina que não exportava nem 15 milhões de toneladas, agora tem expectativa de embarcar 28,5 milhões de toneladas de milho, algo próximo do nosso nível de embarques”, diz. No Brasil, a colheita de 97,19 milhões de toneladas em 2016/17, 46,1% superior ao ciclo de 2015/16, colaborou para aprofundar a queda dos preços. “Essa equação composta por estoques elevados, cotações mais baixas em Chicago, dólar alto e produção elevada gera uma tendência clara de recuo no plantio brasileiro, pelo menos na primeira safra”, acrescenta o executivo.

Em linhas gerais, o mercado do cereal encontra-se em desequilíbrio entre a oferta e a demanda pois, segundo Teixeira, caso haja um resultado produtivo similar ao de 2016/17, certamente persistirá o problema de comercialização instalado entre os agricultores.

Algodão

De acordo com o estudo, no algodão, a relação estoque e consumo está em 70% no mercado global e, internamente, há tendência de retomada na economia. Com isso, a perspectiva é positiva para preços ao produtor, com notícias de contratos para 2017/18 sendo fechados a R$ 76,12 a arroba – nível considerado interessante para o setor.

Mantidas a normalidade climática e os preços remuneradores, a expectativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão(Abrapa) é de que haja outro crescimento de dois dígitos na quantidade a ser produzida na safra 2017/18. A colheita da safra 2016/17 no Brasil deve registrar aumento de cerca de 15% ante o período anterior, por volta de 1,484 milhão de t.