Nos últimos 12 meses, o Brasil foi o maior importador de carne ovina do Uruguai, segundo dados da Direção Nacional de Aduanas, órgão responsável pelo comércio exterior no país vizinho. Atualmente, o mercado brasileiro absorve cerca de 43% das 17,7 toneladas de carne de cordeiro exportadas anualmente pelos frigoríficos uruguaios para 42 países, no valor de US$ 84 milhões. não por acaso, criadores e indústria uruguaios têm comemorado o crescimento sucessivo do poder de compra do consumidor e o aumento da demanda no País. Ao lado deles também há brasileiro aproveitando a onda, como o empresário Paulo Segatelli Camara, de Itaju (SP). “Há negócios borbulhando entre Brasil e Uruguai”, diz Camara. “E não vamos ficar de fora.”

Camara, administrador hospitalar e criador de ovinos dorper há sete anos em Itaju, no interior de São Paulo, adquiriu, há dois anos, um frigorífico no município de salto, um dos principais polos de criação de ovinos no norte do Uruguai, exclusivamente para exportar carne. No início deste ano, ele desembarcou no Brasil a primeira carreta de carne proveniente de salto, com 25 toneladas de cortes congelados, entre eles carré, t-bone, pernil, paleta, picanha e costela, vendidos em São Paulo à empresa savana Food, do empresário Robson Leite, também criador de ovinos e um dos maiores incentivadores de marcas de carne desses animais no brasil. “As marcas institucionalizam o mercado e dão a percepção de qualidade ao consumidor”, afirma Leite. E foi isso que Camara fez ao pôr um pé no varejo. No dia 3 de agosto, ele recebeu cerca de 200 amigos para a inauguração do empório la Parrilla, butique especializada em carne ovina, instalada na unidade da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) de Bauru. A cidade é um polo econômico regional, com influência em uma área na qual residem cerca de 1,5 milhão de pessoas. Para o dia foi preparado ovino no rolete, churrasco que ficou na brasa por nove horas sob o comando de Benedito Barbam, especialista nesse tipo de assado. “Cada vez mais tem gente interessada em cordeiro”, diz Barbam. “Antes, eu só preparava rolete de boi.”

?Desde que iniciou o projeto, Camara já investiu US$ 1 milhão. Quem está à frente dos negócios é o filho Daniel, formado em administração, como o pai. “Quando começamos a criar ovinos já pensávamos na cadeia da carne e não apenas na criação de animais”, diz Daniel. “Mas, ao longo dos anos, não conseguimos projetar uma escala de abates que nos desse competitividade.” Ele conta que a escolha pelo Uruguai foi um desdobramento natural. Há três décadas, Paulo Camara, presidente da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares, frequenta, naquele país, eventos ligados à sua profissão. “Comecei a visitar frigoríficos no Uruguai, juntamente com diretores do Instituto Nacional de Carnes, um ano antes de me decidir pela unidade de Salto”, afirma Camara. “O apoio do governo foi decisivo para nós.”

O projeto da família Camara está estruturado em três pilares. O primeiro é o frigorífico, para o qual atraiu dois sócios que detêm 10% do negócio, o empresário Francisco Pastor, da área de eventos e um dos idealizadores da Feira Internacional de Caprinos e Ovinos (Feinco), e o veterinário Sílvio Cézar de Souza, que é o atual diretor da unidade uruguaia. “São dois parceiros muito importantes, porque um conhece profundamente o setor e o outro é especialista em processos industriais”, diz Camara. “No Uruguai, esperamos que o investimento se pague ao longo dos próximos três anos.” O frigorífico de Salto tem capacidade para abater até 50 ovinos por hora. Atualmente são abatidos quatro mil animais por mês, dos quais 3,6 mil são enviados ao Brasil. A unidade também abate suínos e bovinos para abastecer o mercado local.

A segunda parte do projeto está localizada em Itaju, junto com a criação de mil ovinos dorper, cruzados com Santa Inês, que abastecem um confina mento. O abate de cerca de 20 animais por mês serve para a venda de carcaças inteiras diretamente a restaurantes e churrascarias. Ao lado da criação foi construído o centro de distribuição, com capacidade para armazenar 50 toneladas de carne. “O retorno desse investimento será concluído em um ano”, diz Camara. “O retorno será mais rápido porque ele serve de base para o que pretendemos fazer daqui para a frente”, afirma Daniel.

O terceiro segmento, que é a venda ao consumidor, não vai estacionar na primeira butique. “Em seis meses, o que investimos nela será retornado e?vamos avançar”, diz Daniel. Nos próximos 18 meses, a intenção é abrir mais três casas da La Parrilla, a primeira delas em São José do Rio Preto. “O foco são cidades do interior, com população na faixa de 400 mil habitantes.” Para ganhar velocidade, a família Camara conquistou mais um parceiro, que deve se tornar sócio do projeto no varejo. Trata-se do engenheiro industrial Bruno Pasqualini, amigo de infância de Daniel, ex-executivo da Mercedes-Benz, que morou quase dois anos na Austrália, onde atuou na área de franquias de alimentos. “Aceitei o convite porque gosto do desafio do empreendedorismo”, diz Pasqualini. “No segmento de proteína animal, o ovino tem uma carne que educa, cria o gosto pela qualidade e desperta um aprendizado do que pode ser a alta gastronomia.”