São Paulo, 23 – A disputa alfandegária entre os Estados Unidos e a China pode acabar favorecendo a demanda pela carne suína brasileira, caso os asiáticos de fato sobretaxem o produto norte-americano. Com o encarecimento da entrada do produto norte-americano, os chineses podem se voltar para a oferta do Brasil. O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, aponta que o país asiático assumiu em fevereiro a liderança entre os maiores compradores de carne suína brasileira, importando 11.959 toneladas no mês (o equivalente a 28,4% do total embarcado).

“O Brasil sempre manifestou seu interesse em fortalecer as parcerias pela segurança alimentar na China. Vemos que, a partir deste novo cenário, esta parceria pode ser significativamente ampliada, reduzindo os impactos do embargo russo”, disse Turra, em nota. Em dezembro do ano passado, a Rússia – até então principal comprador da proteína suína brasileira, suspendeu as compras da carne.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) estima que o consumo chinês de carne suína deve crescer 0,7% em 2018, para 55,5 milhões de toneladas. As importações totais dos asiáticos no período devem totalizar 1,6 milhão de toneladas, segundo o USDA.

O Conselho Nacional de Produtores de Carne Suína dos EUA (NPPC, na sigla em inglês) afirma que, no ano passado, a indústria de carne suína do país vendeu US$ 1 bilhão em produtos para os chineses, sendo o país o terceiro principal destino do setor. “As possíveis tarifas chinesas sobre a carne suína americana poderiam ter um impacto negativo significativo no agronegócio do país”, disse o presidente da NPPC, Jim Heimerl, em nota divulgada nesta sexta. “Vendemos muita carne suína para a China, portanto tarifas mais altas sobre nossas exportações vão prejudicar nossos produtores e minar a economia rural”, disse.

Segundo a Federação dos Exportadores de Carne dos Estados Unidos (U.S Meat, na sigla em inglês), os chineses (incluindo compras via Hong Kong) compraram do país em 2017, 495 mil toneladas de proteína suína, cerca de 20% do total exportado pela nação.

Também em nota, o dirigente do Instituto Norte-Americano da Carne, Barry Carpenter, elogiou os esforços do governo norte-americano para “promover um comércio mais justo, aberto e transparente com a China”, mas disse estar preocupado que as tarifas sobre as importações chinesas servirão apenas para prejudicar o acesso do país ao mercado chinês e a “escalada de risco de uma guerra comercial”.

Carpenter lembra que a China, em 2017, foi o segundo maior mercado de exportação agrícola dos EUA, terceiro maior de carne suína e o quarto maior de carne bovina em valor. “Está claro que o crescimento futuro da economia agrícola dos Estados Unidos e do setor de carnes e aves depende de uma relação comercial robusta com a China”, afirma.