TOM WASLANDER é sócio da Brasilpar

O Brasil está entre os maiores produtores e exportadores de carne, sendo o maior exportador de aves e bovinos do mundo. Conseqüentemente, o País também é o terceiro maior produtor de nutrição animal, atrás dos Estados Unidos e da China.

A organização da cadeia produtiva de carne bovina é muito diferente da cadeia de aves e suínos. Na cadeia de carne bovina, os grandes frigoríficos compram os animais dos produtores que, por sua vez, compram ração de empresas especializadas em nutrição animal. A cadeia de aves e suínos é semi-integrada, com empresas como Sadia, Perdigão e Seara controlando o processo através de fornecimento da ração e outros insumos para os criadores que trabalham de acordo com os padrões destas empresas. Chamo isto de semi-integrado porque as empresas se envolvem apenas indiretamente na criação de aves e suínos.

A ausência de um modelo integrado ou semi-integrado na cadeia de carne bovina torna o controle de qualidade mais difícil.

Como um frigorífico consegue garantir a origem do produto para um importador na Europa ou na Ásia, quando ele tem apenas uma influência pequena sobre o criador? E o frigorífico nem conhece a empresa de nutrição animal que fornece ração ou suplemento mineral para o criador.

NUTRIÇÃO CONTROLADA: competição é por qualidade e preço

Este panorama pode estar mudando. No início deste ano, foi anunciada a criação de uma operação verticalmente integrada de carne bovina na Argentina. Os integrantes da joint-venture são nomes de peso: as empresas norteamericanas Tyson Foods e Cactus Feeders – uma das principais empresas de confinamento de gado do mundo – e a empresa agrícola argentina Cresud.

Produzindo itens de maior qualidade no modelo integrado, a nova empresa pretende conquistar acesso a importantes mercados de exportação como a Ásia e a União Européia.

A integração pode ser uma tendência, mas, por enquanto, o setor de nutrição animal é um elo independente na cadeia de carne bovina no Brasil. Uma forma de entender melhor a indústria de nutrição animal é subdividi-la em três segmentos. O primeiro segmento inclui rações comerciais ou rações prontas. O segundo inclui suplemento mineral, principalmente para consumo por bovinos e eqüinos.

O terceiro segmento inclui o chamado premix, conjuntos de micro-nutrientes como vitaminas e minerais. Nos três segmentos a fragmentação é muito grande. Há empresas que competem por preço e não por qualidade.

As maiores empresas de nutrição animal no Brasil faturam menos de R$ 500 milhões por ano e não existem empresas de capital aberto no setor no País.

Este quadro é totalmente diferente entre os clientes indiretos, as empresas processadoras de carne. Trata-se de um setor dominado por grandes empresas, com apetite para crescimento orgânico e por aquisições. As brasileiras Sadia, Perdigão, Friboi e Bertim são players de escala mundial no setor de carnes, com faturamentos entre R$ 4 e 7 bilhões. O apetite por aquisições é demonstrado pela oferta da Sadia pela Perdigão no ano passado, e pela recente aquisição da Swift pela Friboi, que passou a ser a maior processadora de carne bovina do mundo.

Apesar destes movimentos no Brasil e no Exterior, o setor de nutrição animal brasileiro continua fragmentado nos três segmentos. Mas em função da consolidação cada vez maior no setor de carne e da consolidação no setor de nutrição animal fora do Brasil, acreditamos que é apenas uma questão de tempo para que também comece um movimento de concentração.

“O apetite por aquisições é demonstrado pela oferta da Sadia pela Perdigão”