No autódromo de Inter­la­gos, na zona sul da capital paulista, o ronco dos mo­­tores dos carros é ensurdecedor em dia de corrida. Como foi em 6 de maio, durante a se­gunda etapa do campeonato Porsche Império GT3 Cup 2017, o principal evento brasileiro de uma das mais famosas marcas de veículos es­­por­­tivos do mundo. Nos boxes, o movimento de mecânicos, técnicos e pilotos era como uma dança marcada pela atenção máxima aos detalhes, antes da largada. Aí conta quem é astuto e perspicaz nos acertos finais das máquinas. Mas nesta etapa do campeonato criado em 2005, ao contrário de outras, passeavam entre os carros gente como os engenheiros agrônomos Wladimir Chaga, 57 anos, e Fernando Herling Martins, de 71 anos. Pessoas inusitadas, em um lugar improvável? Não. Chaga é presidente da Brandt do Brasil, com sede em Londrina (PR), empresa de fertilizantes e micronutrientes foliares que faturou R$ 36 milhões no ano passado. Ela pertencente à americana Brandt, de Illinois, patrocinadora do piloto brasileiro Miguel Paludo, entre os melhores do mundo na direção de um Porsche. “Passei a ser fã de corrida”, diz Chaga. “Foi a primeira vez que acompanhei uma corrida num autódromo”, afirma Martins.

Os dois não estavam sozinhos em Interlagos. Eles faziam parte de um grupo heterogêneo de 50 convidados, entre produtores rurais, gerentes de revendas agrícolas e outros agrônomos, para acompanhar a corrida diretamente do box da Brandt. Encontros como esse têm se tornado constantes. “Essa é uma forma de atrair produtores para a marca, por ser algo diferente”, diz Chaga. Mas eles também mostram como a Brandt vem fazendo a gestão de talentos na companhia. Martins estava em Interlagos por ser funcionário da empresa. E mais: ser um dos líderes do time de vendas, formado por 25 agrônomos e técnicos. O veterano não é uma exceção na Brandt. Além dele, quatro talentos dessa equipe têm acima de 50 anos. Para Chaga, o grupo representa o resgate da experiência do mercado de trabalho no agronegócio que tem ainda muito a contribuir. “Os profissionais de mais idade, mais experientes, têm sido a base para a formação de nossa equipe mais jovem, especialmente na área de vendas”, diz o executivo.

A Brandt segue uma tendência mundial, que ocorre também no Brasil. Com a população envelhecendo, talentos devem ser valorizados em qualquer idade. Um estudo da consultoria britânica Price Waterhouse Coopers e da Fundação Getúlio Vargas mostra que 57% da força de trabalho nas empresas brasileiras, até 2040, será composta por quadros com idades acima de 45 anos. Há uma década, essas pessoas representavam 22% do total da população empregada, hoje essa faixa subiu para 24%, de acordo com o IBGE. Para Luiz Wever, CEO da inglesa Odgers Berndtson Brasil, uma das líderes mundiais em recrutamento e seleção de executivos, contratar esse tipo de profissional é uma boa estratégia para consolidar equipes. “A importância de contratação de pessoas mais seniores se dá quando uma empresa quer algo a mais do que o capital técnico”, afirma Wever. “Em muitos casos, essa bagagem traz uma solidez para alicerçar ações da organização.”

Para Chaga, a estratégia de gestão de pessoas tem servido, por exemplo, para estruturar um time de vendas em uma região até agora pouco explorada pela empresa: o Cerrado brasileiro. Foi esse um dos principais motivos para a contratação de Martins, conhecido no setor do agronegócio como um dos profissionais que testemunharam a abertura do cultivo de grãos no Cerrado brasileiro, na década de 1970. “A meta é organizar a equipe que vai abrir o caminho para a empresa”, afirma Martins. “Vou mostrar como chegar até o produtor dessa região e conquistar a sua confiança.” O agrônomo Abel César Siqueira Ortiz, 42 anos, por exemplo, está sob o comando do veterano. “Fazer parte de um time mais experiente é bastante motivador”, diz Ortiz. “Quero crescer junto com a Brandt.”

Fernando Martins, contratado pela Brandt “Vou mostrar como chegar até o produtor e conquistar a sua confiança” (Crédito:Divulgação)

A empresa precisa desse tipo de ajuda porque é nova no País. Sua atuação começou com a compra da paranaense Target em 2015, fundada por Chaga em 2009, e que foi convidado para permanecer à frente dos negócios. Concentrada no mercado de fertilizantes foliares nos Estados do Paraná, São Paulo e parte de Mato Grosso do Sul, agora a Brandt quer alargar esta base. Para isso investiu cerca de R$ 3 milhões na ampliação e modernização de uma fábrica em Olímpia (SP), destinada a dobrar a produção de químicos para 400 mil litros de produtos até o final deste ano. No Brasil, o mercado de fertilizantes movimentou R$ 3,7 bilhões em 2015, de acordo com o Sindiveg. “De oito funcionários e receita de R$ 12 milhões em 2014, vamos fechar 2017 com 30 profissionais e meta de R$ 50 milhões, mas queremos triplicar esse valor”, afirma Chaga. “Em cinco anos a Brandt Brasil terá 80 pessoas e uma nova fábrica para se posicionar entre as cinco maiores em microfertilizantes do País.”