O Brasil é o terceiro maior produtor de couro do mundo, atrás apenas da Itália e da China, com produção anual de 40 milhões de peles bovinas. No entanto, os mais de 700 curtumes brasileiros em operação pelejam, há décadas, para diminuir o consumo de água e energia durante o processo de industrialização do couro. Afinal de contas, todas as etapas, desde a esfola da pele, a operação de ribeira – limpeza e eliminação da epiderme e hipoderme –, e o curtimento, até o acabamento do couro, consomem, em média, 30 metros cúbicos de água por tonelada de pele salgada processada. De olho na redução dos custos e em uma produção mais sustentável, o centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologias Criativas para Couro, da Universidade de Northampton, no coração da Inglaterra, desenvolveu uma técnica que pode diminuir em até 70% o gasto de água em curtumes. Os detalhes do estudo, que é semelhante ao sistema de reuso desenvolvido pela Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande (MS), estarão abertos a partir do próximo ano a estudantes brasileiros, que poderão se candidatar a bolsas de estudos. Segundo o vice-reitor Nick Petford, a Universidade tem interesse em compartilhar essas pesquisas com a indústria brasileira de couro, formada também por empresas de grande porte que comercializam o produto. “O elevado consumo de água em curtumes pode contribuir, em alguns casos, até para um desequilíbrio hídrico”, diz Petford. Em 2012, as vendas de couro movimentaram US$ 2 bilhões no País.

De acordo com Petford, o centro de educação para couro existe há mais de 100 anos e possui centenas de projetos em andamento. Além da técnica de redução no consumo de água, outro projeto torna o couro extremamente fino, leve e resistente aos impactos causados por fogo e cortes. “Isso proporciona um grande valor agregado para aplicações, que incluem esportes e os setores automotivo, de aeronaves e de moda.”

Nos laboratórios da Embrapa, as pesquisas de reuso de água consistem em um circuito fechado que separa os efluentes de curtimento, elimina os poluentes e retorna a água para novo curtimento. A Embrapa também tem feito experimentos com água de estação de tratamento de esgoto, em vez da água industrial ou retirada do subsolo, como fazem normalmente os curtumes. De acordo com o pesquisador responsável pelo estudo da Embrapa, Manuel Antônio Chagas Jacinto, os resultados têm sido positivos. Segundo ele, para cada mil quilos de pele bovina são produzidos, em média, 250 quilos de couros acabados e 600 quilos de resíduos sólidos, que representam um grande potencial poluidor. Já o alto consumo de energia é registrado especialmente nas operações de secagem, no aquecimento da água dos banhos e no acionamento dos equipamentos da estação de tratamento de efluentes e tanques para tingimento, chamados de fulões.