Pelo menos 80% dos adolescentes brasileiros (12 aos 17 anos) estão vacinados com a primeira dose da vacina da covid-19 e 25% do total já estão com o regime completo, de acordo com números do Ministério da Saúde do último dia 8. Para especialistas, a cobertura é muito boa, comparável à de poucos países, como Estados Unidos, Reino Unido e Canadá.

Em comparação com outras faixas etárias, o porcentual de adolescentes atingidos por formas graves de covid-19 é muito baixo. As internações pela doença entre os menores de 20 anos representam 1,4% do total; e o número de mortes, 0,4%. Esses números, contudo, podem esconder uma realidade mais complexa e que requer atenção.

Covid matou mais crianças e adolescentes que todas as doenças cobertas pelo PNI

O pediatra Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Sociedade Brasileira de Imunizações, ressalta que no último ano a covid-19 matou mais crianças e adolescentes do que todas as doenças cobertas pelas dezessete vacinas do Programa Nacional de Imunização (PNI), como gripe, pneumonia, sarampo, rubéola, meningite, diarreia, entre tanta outras.

“Proporcionalmente, parece pouco, mas foram 2.400 mortes em números absolutos”, afirmou Kfouri. “Isso é mais do que a soma das mortes de todas as doenças do calendário vacinal.”

Além disso, explica, conforme a vacinação vai aumentando entre os mais velhos, o número de jovens infectados passa a ser proporcionalmente maior, uma vez que os não vacinados são mais vulneráveis ao vírus. Outra questão importante é que mesmo quando não desenvolvem formas graves da doença, os jovens podem ajudar involuntariamente na disseminação do vírus.

“Quanto mais gente vacinada, melhor”, afirma.

Para o especialista, a cobertura já é significativa, uma vez que, em jovens, a proteção com apenas uma dose é muito mais eficaz do que entre os mais velhos. Ainda assim, diz, é crucial avançar ainda mais na segunda dose.

“Houve muita mudança de prazo entre as duas doses, o que pode ter provocado confusão”, lembra. “Então, pode haver aí um porcentual de pessoas atrasadas para a segunda dose que, na verdade, estão apenas cumprindo a data originalmente marcada para retornar ao posto.”

Vacinação infantil contra covid depende da Anvisa

A vacinação de crianças, de 5 a 11 anos, no Brasil, ainda depende da autorização da Anvisa para o uso da vacina da Pfizer nesta faixa etária. O processo está em tramitação na agência, e um posicionamento oficial deve ser anunciado até a próxima semana.

“Para o controle da transmissão e para evitar novas ondas, sobretudo num país em que um quarto da população tem menos de 20 anos, é fundamental a vacinação do maior número possível de pessoas de todas as faixas etárias.”

Kfouri lembrou ainda que, em todo o mundo, aproximadamente 100 milhões de adolescentes já foram imunizados contra a covid-19, comprovando a segurança do imunizante.