A cidade de Araraquara, no interior de SP, registrou nessa terça-feira, 9, queda de 37% na média móvel de novos casos de covid-19 na comparação com 14 dias atrás, com redução de 178 para 112 confirmações diárias. A administração municipal atribuiu os dados a um possível reflexo do “lockdown” adotado na cidade. Mesmo assim, especialistas em saúde e a Prefeitura mantêm o alerta para que a população cumpra as medidas restritivas.

Segundo a Prefeitura, não há pacientes com covid aguardando leito na rede pública. A ocupação de UTI no município, tanto na rede pública como na rede privada, está em 93%. A Santa Casa está com os 10 leitos de UTI covid ocupados. No Hospital de Campanha, 18 dos 20 leitos de UTI estavam ocupados na manhã de terça – 181 pacientes estão internados no município.

“Nosso sistema está estrangulado ainda. O número de internados ainda é extremamente alto para a capacidade do sistema”, afirma Walter Figueiredo, diretor do Serviço Especial de Saúde (Sesa) de Araraquara, vinculado à Faculdade de Saúde Pública. “Se não houver modificação no cenário estadual, a gente ainda vai ter problema”.

Para Figueiredo, a mudança na curva de transmissões do novo coronavírus na cidade pode estar associada a um conjunto de ações. Ele pontua o “lockdown”, o alto número de testagem, a busca por fazer bloqueio em torno de infectados e o monitoramento dos pacientes: “Araraquara, desde o início da pandemia, teve taxa de isolamento muito baixa”.

Ele reforça que o isolamento social permanece fundamental e que é importante que os municípios da região adotem estratégias em conjunto. “Se a tendência permanecer, apesar de ter sido um curto período, significa que pode ter provocado impacto”, afirma Figueiredo. “Nas estratégias adotadas por vários países, tem lockdown de muito tempo, tem que ter no mínimo duas semanas”.

O município, que terminou 2020 com 8.327 casos, chegou nesta terça-feira a 15.640 confirmações de covid-19 e 258 óbitos pelo novo coronavírus, 64% deles neste ano. Ontem, foram confirmados seis mortes: quatro na rede pública, uma na rede privada e uma em casa.

A prefeitura colocou Araraquara em regime de restrição quase total em 15 de fevereiro após confirmação de casos da cepa P.1, inicialmente identificada em Manaus, aumento da procura por oxigênio, alta na ocupação de UTI e no número de mortes.

Sem atingir a redução esperada no nível de isolamento e com o sistema de saúde colapsado – a ocupação em UTI permaneceu em 100% por 15 dias – o prefeito Edinho Silva (PT) decretou “lockdown total” no dia 21 de fevereiro. Por uma semana, até supermercados ficaram fechados para atendimento presencial e postos de gasolina atendiam apenas veículos de serviços públicos. As ruas ficaram desertas.

O município passa agora por um plano de retomada lento e gradual, em que as medidas mais rígidas adotadas pela Prefeitura vão sendo retiradas passo a passo até se igualarem às determinadas pelo governo estadual no Plano São Paulo.

O diretor clínico do hospital da Unimed, Antonio Durante, confirma que é perceptível a diminuição na procura por atendimento e novas internações. “O lockdown no momento certo, junto com outras medidas que adotamos, foi importante”, afirma. Ele considera que o maior controle adotado sobre os pacientes e a vacinação de profissionais de saúde também contribuiu para a melhora nos índices. Mas alerta: “nossa UTI continua com ocupação muito alta, o paciente entra em um leito e fica três semanas”.

A Prefeitura acompanha por telefone ou por visitas em domicílio os pacientes que estão em quarentena, buscando avaliar a necessidade de internação caso o quadro do paciente apresente agravo. O município também passou a vacinar ontem os idosos com 79 anos ou mais, em drive thru no Sesc e em quatro unidades de saúde em diferentes pontos da cidade.