O ano começou mal para o agronegócio. A estiagem castigou as lavouras da região Sul do País. Por isso, o Brasil teve quebra de safra e o PIB agrícola recuou 7,5% no primeiro trimestre em relação ao início do ano passado. Por fim, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma safra de grãos nada agradável para o ano: recuo de 11,5%, o que significa uma produção 8,6 milhões de toneladas menor que a do ano passado. Essas notícias soaram como alerta para o governo, que resolveu garantir uma ajuda de peso ao setor, ao anunciar o Plano Agrícola e Pecuário 2012/2013, no fim de junho. A saída encontrada foi baixar o custo do crédito rural, reforçar a cobertura ao seguro rural, estimular as cooperativas e os médios produtores. Tudo com uma dose ampliada de recursos. Serão R$ 115,2 bilhões, com taxas de juros 5,5%, ante 7,5% do ano passado.

Essas medidas agradaram ao economista Francisco Vila, da Sociedade Rural Brasileira. Vila ficou entusiasmado com o fato de a própria presidenta Dilma Rousseff ter se preocupado em anunciar as várias medidas do novo Plano Safra, uma função que tradicionalmente é delegada ao ministro da Agricultura. “Ao baixar os juros para o produtor e fortalecer linhas de crédito importantes, a presidenta mostra que realmente entendeu que o setor rural é o arroz com feijão da economia”, diz. Para ele, ficou claro que o governo reconheceu o esforço do produtor brasileiro em aumentar a produtividade, mesmo prejudicado por condições climáticas adversas, no primeiro semestre.

A grande novidade deste Plano Safra, foi mesmo a redução de juros a programas e linhas de crédito rural, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil (BB). Os produtores já esperavam pela redução desde que a presidenta determinou ao BB e à Caixa que tomassem a iniciativa de uma diminuição nas suas taxas, para forçar um movimento geral de redução dos juros no mercado. “Não faria sentido o governo baixar para todos os setores e não para o campo”, diz Gustavo Aguiar, da Scot Consultoria. Para Aguiar, os juros rurais praticados no País ainda são altíssimos em comparação a vários países. E, por se tratar de uma atividade que traz rentabilidade baixa – em média 6% ao ano –, o agronegócio necessita de um grande volume de recursos para garantir o faturamento elevado e ganhar no volume.

O novo Plano Safra também privilegia a agricultura mais sustentável. Lançado há dois anos, mas que só em 2011 deslanchou, o Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) teve recursos reforçados para ampliar a preocupação com a preservação do meio ambiente nas propriedades rurais. Trata-se de uma política de crédito que financia técnicas agropecuárias sustentáveis como plantio direto na palha ou recuperação de pastagens degradadas. Além do maior volume de recursos para a safra 2012/2013, o programa teve ampliado o limite máximo de empréstimo disponível para cada produtor, que era de R$ 1 milhão, e agora conta com uma taxa anual de juros mais baixa.

Outra medida bastante elogiada foi o maior incentivo ao seguro rural, que se torna mais barato e acessível. “Precisamos cada vez mais de subsídio para cobrir o risco de catástrofes para que o custo do seguro seja compatível com a rentabilidade do negócio”, diz o diretor técnico da Informa Economics FNP José Vicente Ferraz. Ele defende um preço para o seguro rural que seja compatível com o retorno médio da cultura agrícola, assim como acontece hoje com a produção de maçã. “Em outras culturas como trigo e feijão, porém, os prêmios são muito caros”, afirma Ferraz. “Ainda há uma grande caminhada para o seguro rural no País.”

 

“Ao baixar os juros para o produtor, a presidenta mostra que entendeu o setor rural” Francisco Vila, economista da Sociedade Rural Brasileira

 

Apesar do aumento dos recursos para o plantio, os especialistas alertam que ainda é preciso melhorar o financiamento em outras frentes. “O campo ainda precisa de mais linhas de crédito para custeio e o governo tem a grande missão de acelerar os investimentos em infraestutura de transporte e armazenagem de grãos”, afirma Paulo Molinari, da Safras e Mercados. Já Aguiar, da Scot Consultoria, adverte que o governo ainda precisa instruir melhor os projetos técnicos que devem ser apresentados aos bancos. “Também é preciso aprovar definitivamente o novo Código Florestal”, avalia. “Isso tem impacto no capital necessário para novos investimentos”, diz ele. Ferraz, da FNP, é ainda mais crítico quanto aos rumos da política agrícola: “Meu sonho é ainda ver uma estratégia que contemple ao mesmo tempo infraestrutura, pesquisa, recursos humanos, extensão rural e política comercial”, afirma.