Um indefectível sotaque holandês tomou conta dos corredores de uma das principais cooperativas de crédito agrícola do Brasil, o Sicredi. E não se trata de nenhum tipo de intercâmbio, mas sim de uma parceria com os holandeses do Rabobank, um dos maiores bancos de crédito do mundo, que, por meio do Rabo Financial Institutions Development (RD), seu braço de desenvolvimento, deterá 30% do Banco Sicred. Em troca, a cooperativa brasileira pretende utilizar a expertise dos parceiros para aumentar sua participação na agricultura empresarial. Esse segmento era incipiente nos negócios da empresa, focada na atuação junto a pequenos produtores. “A associação entre o Rabobank e o banco Sicredi faz parte de uma reestruturação que irá nos permitir atuar em outros segmentos e oferecer serviços que hoje não dispomos”, afirma o presidente executivo do Sicredi, Ademar Schardong.

O acordo assinado em meados de junho, prevê que o Rabobank aportará recursos para elevar em 30% o capital do Banco Sicredi. Hoje a instituição fatura cerca de R$ 300 milhões, o que representa pouco mais de 15% da receita total do grupo, de R$ 2,5 bilhões. A empresa ainda terá direito a uma cadeira no conselho de administração do Sicredi e irá participar diretamente da gestão do banco. Os valores que serão aplicados nessa operação, que ainda está em análise no Banco Central, não foram revelados, mas para Schardong contar com o respaldo do grupo holandês é crucial para as pretensões da empresa dentro do mercado de crédito agrícola brasileiro. “Na Holanda, o Rabobank financia cerca de 80% do setor agropecuário. Enquanto nós temos uma participação interessante no financiamento da agricultura brasileira, principalmente entre os pequenos produtores.

 

Acreditamos que, com o respaldo dessa instituição, poderemos crescer na agricultura empresarial”, analisa o presidente, que explica que a mudança se deve à classificação de risco. “Hoje se formos individualmente ao mercado teremos um tipo de classificação de risco alta. Agora, se formos associados a uma grande empresa global, essa classificação será muito menor, o que nos permitirá oferecer serviços com condições e taxas competitivas”, pondera. De acordo com o presidente, o plano de negócios ainda será definido, mas a ideia inicial é conquistar uma fatia de 20% no mercado de crédito agrícola empresarial. “Hoje não temos nem 5%”, ressalta.

Foco do banco é a carteira de 1,6 milhão de cooperados da Sicredi

Já do lado holandês, as atenções estão voltadas para as mais de 128 cooperativas e para o 1,6 milhão de associados que o Sicredi atende. Uma ampla rede de balcões distribuídos em regiões interioranas, consideradas estratégicas para que o Rabobank consiga aumentar sua penetração no mercado brasileiro. “O objetivo desta parceria não é apenas um retorno financeiro, mas também facilitar o desenvolvimento da estrutura de cooperativas de crédito, melhorar o acesso ao financiamento e permitir sucesso em operações comerciais no mercado brasileiro. É mais um passo no reforço da nossa presença em um importante mercado agrícola”, declarou, em nota, o membro da comissão executiva do Rabobank e responsável pelo Rabobank Desenvolvimento, Berry Marttin.

A parceria ainda prevê troca de informações e de conhecimentos técnicos entre os sistemas cooperativos, o que, segundo Schardong, poderá possibilitar a criação de serviços que hoje o Sicredi não possui. “Já estamos estudando a geração de crédito imobiliário e leasing. São contratos que ainda não operamos, mas que agora temos tudo para operar.”