Os motores do campo estarão acelerados nesse final de janeiro e início de fevereiro, especialmente os das colhedeiras de grãos e não é por acaso. O plantio da soja foi atrasado em grande parte das fazendas do País por falta de chuva. Isso aconteceu em Mato Grosso, maior produtor de soja do País, responsável pelo cultivo de 9,5 milhões de hectares, 27,3% da área plantada com a oleaginosa nacionalmente, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “Apesar dos atrasos, o produtor conseguiu fazer seus plantios na janela ideal”, afirma o engenheiro agrícola Glauco Monte, diretor de Commodities da consultoria INTL FCStone. Agora, o produtor deve acelerar para não perder o tempo da colheita da safra verão, nem postergar o plantio da segunda safra, além de estar atento à comercialização, e sem deixar de lado os investimentos.

Glauco Monte, diretor de Commodities da INTL FCStone (Crédito:Divulgação)

Ao longo dessa safra o crédito ao produtor será maior. O valor destinado pelo governo federal, através do Plano Agrícola e Pecuário 2017/2018, é de R$ 200 bilhões, 24,3% maior ante a safra 2016/2017. Desse montante, R$ 64,6 bilhões já foram liberados aos produtores, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), sendo que R$ 12,3
bilhões foram concentrados em investimentos, como aquisição de máquinas e implementos agrícolas novos e R$ 52,3 bilhões destinados ao custeio, industrialização e comercialização da produção. Restam ainda R$ 135,4 bilhões que podem ser acessados até junho deste ano.

Com o crédito em mãos, é importante que o produtor não se esqueça de reservar recursos para quitar todos os empréstimos contraídos, seja com os recursos subsidiados pelo governo, por instituição financeira ou ainda em operações de troca (barter) com revendas agrícolas ou indústrias de insumos, como defensivos e fertilizantes, possibilitando a manutenção de disponibilidade de crédito para a próxima safra. “Se o produtor toma um financiamento, faz alguma troca ou assume qualquer
dívida, ele tem de trabalhar com ferramentas de gestão de risco”, diz Monte. Segundo ele, existem políticas de  comercialização que o produtor deve começar a utilizar mais, como preços mínimos, além de ferramentas de mercado futuro, como o mercado de opções, facilmente acessadas através das tradings de grãos.

Apesar da expectativa de produção ser menor em relação à safra anterior, o setor agrícola está otimista para colher bons resultados (Crédito:André Hernades)

Essa preocupação não é à toa. Apesar do País caminhar para um ano de crescimento de 3,1% da área plantada de soja, chegando a 35 milhões de hectares, a produção deve ser menor. A Conab prevê 109,2 milhões de toneladas do grão, uma redução de 4,3% frente à safra passada. Segundo o zootecnista Rafael Ribeiro, coordenador da área de grãos da Scot Consultoria, a ocorrência da La Niña, fenômeno que pode provocar uma grande variação do ciclo de chuvas, causa incertezas quanto ao clima e é responsável pelo cenário pessimista. “Espera-se uma produção menor em função de uma produtividade menor. Isso tudo está relacionado a esse clima”, diz Ribeiro. “Por isso, todo cuidado é pouco para o produtor e é importante que ele faça operação de venda futura.” Porém, nem todos estão utilizando essa alternativa, segundo os analistas. Em Mato Grosso, por exemplo, até dezembro do ano passado, foi estimado que 38,6% da produção de soja já tinha sido vendida, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). No mesmo período em 2016, as vendas futuras da soja atingiam 47,4% da produção. “Os produtores estão ainda aguardando o melhor momento para fazer a venda”, diz Monte. Um dos caminhos recomendados é investir na aquisição de insumos superiores, como sementes com maior potencial produtivo e agroquímicos com melhor resposta no campo. Em anos de incertezas climáticas, a aposta deve ser na qualidade para superar os desafios. “É justamente nessa hora que o produtor precisa ser mais eficiente, por isso é importante que ele mantenha o foco na produtividade”, diz Ribeiro.

Rafael Ribeiro, coordenador da área de grãos da Scot Consultoria (Crédito:Divulgação)

“Se o produtor toma um financiamento, faz alguma troca ou assume qualquer dívida, ele tem de trabalhar com ferramentas
de gestão de risco.”Glauco Monte

“De nada adianta um custo reduzido na lavoura, se lá na frente ele vai colher menos sacas por hectare.” Assim, o crédito é uma das ferramentas para que a rentabilidade da safra 2017/2018 alcance números positivos e o produtor rural deve aproveitar o momento sem se descuidar do equilíbrio financeiro, pois os campos brasileiros vão continuar, por muito tempo, movimentando a economia nacional.