Preocupado com a crise política e com a possibilidade das reformas não avançarem no Congresso, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, procurou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para tratar do assunto, segundo fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast.

Na Câmara, desde o dia 6 de outubro não são realizadas votações. O motivo é a obstrução feita pelos partidos da base do governo como forma de tentar emplacar um nome alinhado ao líder do PP na Casa, deputado Arthur Lira (AL), na presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO). A oposição também tem segurado os trabalhos para tentar colocar em pauta a medida provisória que prorroga o auxílio emergencial pelo valor de R$ 300.

Segundo interlocutores, Maia disse a Campos Neto o mesmo que tem respondido em público: que a obstrução parte da base do governo.

Ontem, para jornalistas, Maia criticou a articulação da base. “Eu pauto, a base obstrui, eu cancelo a sessão. Infelizmente, é assim. Eu espero que, quando tivermos que votar a PEC emergencial, a reforma tributária, que o governo tenha mais interesse e a própria base tire a obstrução da pauta da Câmara”, disse.

Com poucas semanas até o fim do ano, Maia já tinha defendido ao Estadão que governo e lideranças dos partidos fechassem com a máxima urgência um cronograma para votação de medidas de corte de gastos para garantir a adoção do Renda Cidadã, o programa substituto do Bolsa Família, e dar tranquilidade fiscal ao País nos próximos dois anos. Para o presidente da Câmara, não há mais tempo a perder porque, segundo ele, a crise “está muito mais perto, o prazo é curto e não se tomou a decisão até agora do que fazer”.

As preocupações de Campos Neto surgem em um momento-chave para o Banco Central. A percepção é de que, caso o risco fiscal se intensifique, a autarquia reforçará os alertas de que precisará subir os juros para controlar a inflação. Campos Neto tem sinalizado que, com a área fiscal desorganizada, não é possível manter os juros baixos para sempre. Na reunião de ontem do Comitê de Política Monetária, a Selic foi mantida em 2% – o menor patamar da história.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.