Para quem viaja aos Estados Unidos, interessado em conhecer o agronegócio, visitar as imensas plantações de milho e soja na região do Meio-Oeste, chamada de “grain belt”, é um programa obrigatório. Dificilmente passaria pela cabeça do viajante incluir no périplo uma passagem por Durham, município com mais de 230 mil habitantes, no interior do Estado da Carolina do Norte. De paisagem bucólica, tomado por bosques e muitos carros circulando em amplas rodovias, o Estado não tem uma produção agrícola relevante de grãos. No entanto, sua importância para o agronegócio americano é cada vez maior. Isso acontece porque a região é um enorme campus universitário a céu aberto. Batizada de Research Triangle Park, reúne três famosas universidades: a Duke University, a University of North Carolina e a North Carolina State University. E, como não poderia deixar de ser, esse triângulo das pesquisas acabou por atrair a indústria. Assim como na Califórnia o Vale do Silício é conhecido por agregar empresas de tecnologia, o Research Triangle Park é uma espécie de “Vale dos Químicos”. Lá, estão concentradas gigantes da indústria de defensivos, como as alemãs Basf e Bayer, a suíça Syngenta e a americana DuPont. 

É em Durham que está localizada uma das principais fazendas experimentais da Basf Crop Protection, a divisão de agronegócio da companhia alemã. O local está se tornando tão relevante que dois de seus principais executivos fizeram as malas e se mudaram da Alemanha para os Estados Unidos. Juergen Huff está vivendo na região há pouco mais de um ano, atuando como vice-presidente sênior da Functional Crop Care, uma área criada em 2012, responsável pelos produtos biológicos e tratamento de sementes. “Estamos combinando o melhor da química e da biologia, para elevar o potencial produtivo das culturas”, afirma Huff. Seu conterrâneo Peter Eckes, vice-presidente da Basf Plant Science, mudou-se quando essa unidade, que é responsável pela área de biotecnologia, foi instalada nos Estados Unidos, há cerca de dois anos. “Infelizmente, na Europa, há uma discussão emocional e dúvidas sobre a aceitação dos organismos geneticamente modificados”, afirma Eckes. “Realocamos a sede porque acreditamos que, na América, os transgênicos terão uma história muito positiva.” 

O presidente global da Basf Crop Protection, Markus Heldt, permanece na Alemanha, mas somente neste ano já esteve por seis vezes nos Estados Unidos. “Temos uma grande operação no país”, diz ele. “A agricultura americana está cheia de desafios e oportunidades.” Foi em Durham, no mês de junho, que os três executivos se reuniram para apresentar os resultados e as expectativas da empresa, durante a sua conferência global. “Vamos dobrar os investimentos”, afirmou Heldt. Até 2018, será aplicado E 1,8 bilhão para ampliar a capacidade produtiva da divisão do agronegócio, ante os E 900 milhões do plano de investimentos do período de 2009 a 2013. Desse total, os Estados Unidos contarão com uma fatia de E 200 milhões para a ampliação de sua fábrica de herbicidas em Beaumont, no Texas, e para melhorar a infraestrutura da unidade de Hannibal, no Missouri. Outros E 50 milhões serão direcionados à América do Sul para expandir a produção de fungicidas e inseticidas no complexo químico de Guaratinguetá, em São Paulo, e para construir uma fábrica de biológicos no Chile.  

A receita da divisão Crop Protection foi de E 5,2 bilhões em 2013, cerca de 7% da receita total de E 74 bilhões do grupo Basf. No entanto, a divisão do agronegócio é a que está recebendo a maior atenção no quesito pesquisa. Somente em 2013 foram investidos E 469 milhões, o equivalente a 26% do total aplicado em pesquisa Agronegóciose desenvolvimento pela empresa. “Somos a área da Basf que mais recebe esse tipo de investimento porque é a que mais se sustenta em novas tecnologias”, diz Heldt. “O volume reflete o compromisso da empresa em continuar apostando no agronegócio.” Hoje, os produtos destinados ao campo respondem por 7% do faturamento da Basf e por 12% dos lucros. Se compararmos a parcela investida em pesquisa e o retorno financeiro, pode até parecer que há um deslize do ponto de vista financeiro, mas, na verdade, isso representa uma aposta estratégica “Vamos investir porque esse é um dos negócios mais rentáveis”, afirma Heldt. Segundo ele, a meta é chegar a um Ebitda de 25% anuais no longo prazo. Segundo a empresa, o chamado “pipeline”, o atual conjunto de produtos em desenvolvimento, tem um potencial de vendas da ordem de E 2,1 bilhões. 

Com novos produtos no mercado, a multinacional alemã acredita que sua divisão do agronegócio deve crescer num ritmo de 6% ao ano e chegar em 2020 com uma receita próxima de E 8 bilhões. Para alcançar essa meta, a Basf aposta a maior parte de suas fichas no Brasil e nos Estados Unidos. “São os maiores mercados e estão com resultados muito próximos”, diz Heldt. Em 2013, do total de E 5,2 bilhões em vendas da divisão, a metade veio do continente americano: 1,4 bilhão na América do Norte e E 1,2 bilhão na América no Sul. “Para nós, o Brasil não é mais um emergente, o País tem uma produção intensiva e produtores muito profissionais”, diz Huff, o vice-presidente sênior da Functional Crop Care. “Já não faço distinção entre o Brasil e os Estados Unidos.” A empresa não revela o seu faturamento em cada país, mas, de acordo com Heldt, o Brasil responde por cerca de 70% das vendas na América do Sul, algo em torno de E 840 milhões. “Nos últimos cinco anos, o Brasil vem crescendo acima da média e vai continuar contribuindo para o nosso sucesso no futuro”, afirma o presidente.

O que vem por aí

A Basf investe em biotecnologia e se prepara para lançar novos defensivos e biológicos

Embora o brasileiro não ouça falar em transgênicos com a marca da Basf, a empresa atua cada vez mais nesse ramo. A estratégia é desenvolver a biotecnologia apenas em parceria com outras empresas e entidades, como a americana Dupont e a brasileira Embrapa. “Com a Monsanto, introduzimos o primeiro ‘trait’ resistente à seca do mundo”, diz o vicepresidente da Plant Science, Peter Eckes. O executivo se refere à característica genética introduzida na chamada Genuity DroughtGard Hybrids, uma cultivar de milho tolerante ao estresse hídrico, lançada nos Estados Unidos em 2013. Por enquanto, a empresa cogita levar essa novidade para países africanos. Para o Brasil, a Basf desenvolveu a Cultivance, em parceria com a Embrapa, uma variedade de soja tolerante a herbicidas que deverá ser lançada comercialmente na safra 2015/2016. Outra área voltada para a agricultura, a Functional Crop Care, promete a chegada de um sistema de gerenciamento de solo, batizado de Limus, capaz de retardar o processo de evaporação da amônia presente nos fertilizantes nitrogenados. “O objetivo é melhorar a performance dos fertilizantes, tornando o uso da ureia mais eficiente”, diz Juergen Huff, vice-presidente sênior da área. O Limus será lançado em 2015, nos Estados Unidos, na América do Sul e na Ásia. Outra tecnologia esperada é o biofungicida Serifel, que deve ir para o mercado em 2015, nas Américas do Norte e Central. A empresa também anunciou uma parceria com a japonesa Mitsui Chemicals Agro, com o objetivo de desenvolver um novo inseticida.