O pecuarista João Cariello encabeça o ranking dos melhores criadores de nelore mocho. Os resultados das exposições têm sido favoráveis para o criador de 63 anos, que entrou para valer na atividade em 1998. O que pouca gente sabe é que, muito antes de iniciar sua criação, Cariello dedicou muitos anos de sua vida ao desenvolvimento da pecuária nacional. Na verdade, 34 anos. Nesse período, esteve à Voltando ao distante ano de 1970, a Fundação Bradesco lançava o projeto Pecuária Planejada (Pecplan), cujo objetivo era dar um novo rumo à pecuária brasileira. À época, técnicas como a transferência de embriões (TE) e a fertilização in vitro (FIV), hoje extremamente democratizadas, não passavam de assuntos de ficção para criadores brasileiros. A reprodução era feita na base da “monta” e o acesso à genética internacional era muito difícil. “Inicialmente a Pecplan nasceu como parte da Fundação Bradesco, mas depois ela se tornou uma empresa limitada”, relembra Cariello.

OLHO DO DONO: Cariello acompanha de perto sua propriedade e, em menos de dez anos, figura entre os melhores criadores

O trabalho do então presidente consistia em encontrar localidades carentes de educação, montar escolas no campo e formar novos profissionais para o mercado. “A inseminação artificial já era usada fora do Brasil e era importante formar gente para trabalhar com isso.” A Pecplan firmou, então, uma parceria com a ABS, empresa de origem norte-americana que passou a transferir tecnologia para a recémcriada empresa brasileira. O acesso à genética estrangeira, porém, era muito difícil. “Não havia protocolos e a ABS trabalhou junto ao USDA (Ministério da Agricultura dos Estados Unidos) no sentido de viabilizar essa colaboração”, diz. As normas de criação foram ajustadas e, 15 anos após a criação da Pecplan, em 1985, nascia o primeiro produto resultado de uma FIV. “Em 1986, fizemos o primeiro leilão de embriões do País”, comenta.

190 mil frangos de corte fazem parte dos negócios do ex-executivo

Acompanhar o mercado pecuário de perto e observar a sua expansão despertaram no executivo a vontade de entrar no mundo da criação. A falta de tempo, no entanto, não permitia a dedicação necessária. Só quando estava perto de sua aposentadoria é que Cariello começou a selecionar suas primeiras matrizes. Aposentado desde 2004, ele colhe os frutos do conhecimento adquirido nos anos de Fundação Bradesco. E a exemplo do trabalho que realizava no grupo financeiro, uma coisa não mudou: ele continua colocando a mão na massa. Cariello acompanha de perto todas as atividades de sua propriedade e conhece muito bem cada um dos exemplares que possui. Além disso, participa de forma efetiva em várias operações, auxiliando até na coleta de sêmen dos animais. Para diversificar as atividades, ainda possui uma criação de 190 mil frangos confinados para corte. Para o futuro ele pretende se manter entre os melhores criadores de nelore mocho, associação da qual é, aliás, diretor. O gosto por animais “sem chifres” nasceu da convivência com criadores norte-americanos. “Há menos riscos de ferimentos no couro e a qualidade genética é a mesma”, diz. Mas, mesmo depois de tantos anos, ele diz que ainda tem muito que aprender. “Isso que é o bom dessa atividade: sempre há o que melhorar”, afirma. Quanto ao ranking? “Se por acaso eu ganhar será muito bom, mas se não acontecer não tem problema. O importante é saber que a criação está no caminho certo”, diz.