Papel celulose

Desde 2011 à frente da Fibria, o engenheiro mecânico Marcello Castelli sabe muito bem quanto custa tomar decisões difíceis. Quase três décadas atrás, ele se dividia entre os estudos de engenharia e uma carreira no basquete. No entanto, ao se aproximar da conclusão do curso, ele percebeu que tinha mais potencial como executivo que como esportista. A decisão de abandonar as quadras não foi fácil, mas Castelli manteve-se firme. Os mesmos princípios são aplicados à direção da companhia. Ao longo de 2016, a Fibria conseguiu ampliar sua capacidade produtiva, ter lucro e pagar dívidas. Com um valor de mercado de R$ 29 bilhões em novembro de 2017, ela apresentou um faturamento de R$ 5,03 bilhões e um lucro de R$ 1,65 bilhão em 2016. Isso rendeu-lhe o prêmio de melhor do setor de Papel e Celulose nesta edição do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2017.

Sob qualquer aspecto, a Fibria é uma potência. Ela é a maior do setor no Brasil e uma das maiores do mundo, segundo Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da corretora Nova Futura. Uma cifra mostra a importância da companhia: ela é responsável por 23% da produção de pasta branqueada de eucalipto do mundo. Com quatro unidades instaladas, nos estados de São Paulo, Bahia e Mato Grosso do Sul, ela tem capacidade de produzir 7,25 milhões de toneladas de celulose por ano. Em agosto, após dois anos de trabalhos e R$ 7,5 bilhões investidos, a companhia inaugurou a segunda linha de processamento de eucalipto na unidade de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. A nova linha, denominada como projeto Horizonte 2, é capaz de processar 1,9 milhão de toneladas, 58% acima da primeira linha, inaugurada em 2009. “A conclusão do Projeto Horizonte 2 foi a mais importante para nós. Ampliamos a nossa liderança no mercado global de celulose”, diz Castelli. Só em Três Lagoas são 3,2 milhões de toneladas por ano.

Outra vantagem da Fibria é sua capacidade de obter bons resultados por meio da verticalização de sua produção. Nos países desenvolvidos, o setor opera de maneira mais horizontal. As diversas fases da produção – o cultivo do eucalipto, a produção da pasta e sua transformação em papel – são realizadas por empresas diferentes. “Na Fibria tudo é verticalizado, o que permite à empresa evitar os custos decorrentes de uma produção mais segmentada”, diz Silveira. A companhia possui 633 mil hectares com plantações de eucalipto, e tem potencial para ampliar essa área para 1,05 milhão de hectares. Além disso, ela opera três terminais portuários próprios, Belmonte e Caravelas, na Bahia, e Portocel, no Espírito Santo.

Quase toda a produção de celulose da Fibria é exportada para cientes em 38 países, o que a torna uma queridinha no mercado de capitais. Suas ações são uma proteção natural contra os solavancos da economia, pois suas receitas são totalmente vinculadas ao dólar, e mais de 90% de suas compras são para o Exterior. “Isso permite à empresa aproveitar momentos econômicos bons, como no caso da China”, diz Silveira.


A empresa também se destaca pelo cuidado com os riscos. A Fibria nasceu de uma crise. Em 2008, a Aracruz, já então uma das maiores produtoras de celulose do mundo, sucumbiu devido a apostas erradas no câmbio e se fundiu com a concorrente Votorantim Celulose e Papel (VCP), no ano seguinte. Hoje, traçar cenários e fazer exercícios de simulação todos os trimestres é parte integrante dos procedimentos da empresa. O trabalho, do qual participam a diretoria executiva e todas as áreas da companhia, consiste em imaginar cenários adversos e estabelecer panoramas para isso. Um bom exemplo ocorre com a energia. Intensiva em capital, a indústria de papel é um grande consumidor de eletricidade. A Fibria utiliza as sobras da madeira que não são destinadas à celulose para gerar eletricidade, e produz 110% do que utiliza. Há tempos que não se esperam apagões pelo Brasil. Porém, sempre é bom evitar os riscos e fechar as defesas – como qualquer bom jogador de basquete não ignora.