FAMÍLIA UNIDA: os irmãos José, João e Melchisedech Abacherly tocam com toda a família o sítio São José

Em vez de corredores de piso branco, a terra batida. A brisa natural do campo substitui o ar condicionado e no lugar de prateleiras refrigeradas estão as próprias plantas das quais se colhe o fruto diretamente do pé. Assim são as fazendas-mercado, propriedades que adotaram um modelo de agroturismo, em que os consumidores podem ir até o lugar e colher, eles próprios, as frutas e legumes que desejam levar para casa.

A prática é comum em países como os Estados Unidos e começa a dar seus primeiros passos no Brasil. Por aqui o que não faltam são adeptos desse novo jeito de comprar alimentos. É o que garante Melchisedech Abacherly, produtor que, com os quatro irmãos, toca o sitio São José, localizado no município de Indaiatuba, no interior de São Paulo.

EXIGENTE: preocupada com a saúde, Alexandra Haluschko compra com freqüência na fazendamercado

Há quatro anos a família trocou a produção comercial pelo turismo no campo e agora vende os morangos, uvas e milho verde que produz na propriedade de 23 hectares, diretamente do pé para o cliente. “Atendemos a um público que procura produtos frescos, naturais, sem uso de agrotóxico e também atendemos pessoas que querem vivenciar a experiência de colher sua própria fruta. Muitas pessoas passaram a infância na roça e foram para a cidade e agora visitam o sitio para matar a saudade”, afirma. A cada fim de semana, o sitio recebe cerca de 400 pessoas, com o movimento duplicado no período de férias escolares.

DIVERSIDADE – Embora o milho verde seja o produto mais vendido, a grande atração está na produção de morangos, tocada de forma vertical, em ambientes protegidos por estufas. Dessa forma, eles conseguem eliminar o uso de agrotóxico e aumentar o tempo de colheita para até oito meses durante o ano. Mas o que chama a atenção é a maneira que os frutos ficam pendurados nas duas estufas que ocupam uma área de 250 metros quadrados. Com o morango ao alcance das mãos, é praticamente impossível caminhar pela área sem colhê-los e prová-los no próprio local. “Não há quem resista a provar um moranguinho direto do pé. Nós produzimos cerca de três toneladas por ano e vendemos em média 500 caixas de 400 gramas por semana”, conta João Roberto Abacherly, responsável pelos morangos do sítio.

Moradora de Indaiatuba, a jovem Alexandra Cosmo Haluschko é uma das pessoas que descobriram o prazer de comprar frutas direto do pé. “Fazer compras a céu aberto é muito melhor do que enfrentar filas em supermercado”, conta. Além disso, a qualidade lhe chama a atenção. “O morango é muito mais saboroso”, completa.

Além de prazeroso, os irmãos garantem que o negócio é rentável. “Desde que optamos por esse modelo nosso faturamento aumentou 60%”, conta Melchisedech, sem revelar valores. O exemplo são novamente os morangos. Em uma produção convencional, eles venderiam seus morangos a R$ 1. No sitio, cada caixa sai por R$ 3, valor bem acima do praticado nos mercados tradicionais. “As pessoas não reclamam porque não estão comprando apenas o fruto. Elas compram a experiência de vivenciar o campo, de colher. Isso dá um grande valor agregado”, explica o agricultor.

SÍTIO EM CASA – Além disso, praticamente não foi necessário fazer investimentos para adequar o sitio. “Tudo é bem rústico da maneira que sempre foi. Até porque a proposta é que as pessoas vivenciem uma propriedade agrícola de verdade”, ressalta. Para quem quiser levar um pedacinho da fazenda para casa, o sitio também comercializa toda a estrutura para os que desejarem cultivar os morangos pendurados na própria residência. “As pessoas gostam de ter a idéia de ter em casa uma pequena produção, que além de charmosa é muito saudável”, avalia o agricultor. É o campo cada vez mais perto da cozinha de casa. “Um bom negócio”, finaliza Melchisedech.

PRIMEIROS PASSOS

Fazenda começou com a vinda de imigrantes da Suíça no século passado

Faz tempo. Retratado abaixo, ao lado da esposa, Lucila Ambiel Abacherly, o pordutor José Abacherly Filho faz parte da primeira geração nascida no Brasil, depois que seus pais vieram da Suíça ainda no século passado. As terras estão com a família há mais de 100 anos e hoje cinco de seus sete filhos tocam o negócio. A história, porém, quase teve um final triste, devido a anos de vacas magras nos negócios. Graças ao turismo rural, a família encontrou novamente o caminho dos lucros. “Encontramos a fórmula”, diz, animado, José Abacherly. “Que continue assim”, finaliza.