A estudante de biotecnologia Letícia Marques, 22 anos, de Governador Valadares (MG), quer avaliar alimentos alternativos, uma ferramenta para dar mais fôlego às pesquisas com transgênicos no campo. O paulista Paulo Beraldo, 24 anos, recém-formado em comunicação, acredita que os sistemas agrícolas de integração lavoura-pecuária serão uma solução viável na produção de alimentos. Já os estudantes de agronomia Caio Siqueira, 25 anos, também de São Paulo, e Augusto Akira, 20 anos, de Florianópolis, tecem planos de dinamizar a produção e a logística contra o desperdício de alimentos. “Mesmo morando na cidade, sempre senti a necessidade de me formar em uma profissão que ajudasse na produção de alimentos do País”, diz Akira. Ele não é o único. Todos os demais estão moldando suas carreiras com foco no futuro da agricultura e acreditam que suas ideias têm poder de impacto global.

Neste mês de outubro, o grupo apresentou seus planos para o mundo. Os brasileiros fizeram parte de um grupo de 100 estudantes, de 49 países, presentes na conferência internacional Youth Ag-Summit, nos dias 9 a 13, em Bruxelas, na Bélgica. Organizada pela alemã Bayer, que no ano passado faturou R$ 7,9 bilhões no País, vencedora em Gestão Corporativa no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL, o evento tem por objetivo aumentar a conscientização global sobre a alimentação e a produção de alimentos. Segundo o agrônomo Dirceu Ferreira Junior, diretor de Expertise em Agricultura Tropical da Bayer, que selecionou os jovens a partir de uma redação, o tema deste ano, “Como alimentar um planeta faminto?”, está em linha com o que ocorre na sociedade. “A ideia é ter uma discussão multicultural que aborde saídas para esse problema da humanidade”, diz. A conferência tem como parceiras as associações belgas de agricultores Groene Kring e Fédération des Jeunes Agriculteurs. “É fantástico imaginar que cinco profissionais tão jovens já possuem um projeto próprio para sanar o problema da fome no mundo”, diz Ferreira Junior. “Essa é uma característica de líderes e estamos incentivando a formação do papel de liderança em cada um deles.”

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), o número de pessoas desnutridas cresceu 4,9% no mundo. Saiu de 777 milhões de pessoas em 2015 para 815 milhões no ano passado. A FAO calcula que em 2030, uma em cada sete pessoas consumirá menos de 2,5 mil calorias por dia nos países em desenvolvimento, uma lista na qual o Brasil ainda está incluído. A necessidade média per capita de alimentos é de três mil calorias diárias. Na busca da mitigação dos efeitos da fome, os brasileiros mostram ao mundo que é possível transformar a produção global de alimentos, que hoje chega a cerca de quatro bilhões de toneladas e movimenta US$ 2,4 trilhões. Para a estudante de biotecnologia, Letícia Marques, por exemplo, além do desenvolvimento de plantas transgênicas, existe uma lista de plantas alimentícias não convencionais, as chamada Pancs, que poderiam ser incluídas na dieta. Entre elas estão a cagaita, um fruto típico do Cerrado rico em vitamina C; a planta trepadeira ora-pro-nóbis, rica em proteína e até mesmo o carrapicho, rico em sais, podendo substituir o sal. “Todas essas espécies podem diversificar a alimentação”, diz Marques.

Contra o desperdício de alimentos que tal ideias que aproximem mais o campo e a cidade? Para o engenheiro Akira, os cinturões verdes urbanos, com uma logística mais eficiente na distribuição de alimentos, é um caminho. “Com isso o desperdício de alimento cai”, diz Akira. Adicionada a essa ideia, que tal alguns projetos de fazendas verticais próximos às cidades? “Dependendo da infraestrutura, é possível criar soluções economicamente viáveis”, afirma o engenheiro Siqueira. Esses são alguns planos que podem ir à prática nos próximos anos. De cada um dos participantes, a Bayer cobra uma ação a ser desenvolvida na região onde residem. “Mesmo que não seja o seu plano original, esses jovens devem promover transformações”, diz Ferreira Júnior. Para ele, o agronegócio pode planejar o futuro, porque estão nas mãos desses profissionais as rédeas de como o setor vai atuar no mundo.