A empresária  Carla de Freitas, é uma das pecuaristas mais conhecidas no Sul de Rondônia. Como proprietária da fazenda Bela Vista, de Chupinguaia, herdada do pai e administrada exclusivamente por ela, desde 1996, Carla se tornou referência na criação de gado por vários motivos. Casada com o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, ela chamou a atenção por ser uma das pioneiras em aderir ao programa de Carne Nelore Natural, no início dos anos 2000, e por tornar-se a primeira presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio. No entanto, nos últimos três anos, o que tem despertado a curiosidade sobre suas atividades é o seu projeto de integração lavoura-pecuária. “Fazer integração é como abrir uma porteira que não tem mais como fechar”, diz Carla. “A fazenda que vai para a lavoura nunca mais volta a ser só de pecuária.”

A Bela Vista, que reúne um rebanho de 17 mil animais, colheu soja em dois mil hectares nesta safra, área na qual entram neste mês o cultivo de capim para pastejo e de milheto para produzir silagem destinada ao confinamento. Neste ano, Carla está começando a desenvolver um projeto para dobrar a produção de suas terras, uma área de 14 mil hectares. Segundo ela, as visitas de vizinhos para dar uma espiada no andamento do projeto são constantes. “É natural a curiosidade, ainda mais porque antes de assumir a lavoura eu arrendei as terras para integração durante quatro anos”, diz Carla. “Tenho muita história para contar.”


João Kluthcouski:para o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, o pecuarista gosta de ver o que o outro está fazendo

Para o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, João Kluthcouski, ver a experiência do vizinho é o mais eficaz meio de extensão rural. “Não tem erro, pecuarista gosta de ver o que o outro está fazendo”, diz Kluthcouski. “No caso, o outro é sempre o vizinho que está dando certo.” O Brasil possui 5,2 milhões de propriedades rurais, das quais 80% são consideradas médias e pequenas, com área máxima ao redor de 500 hectares. “Para um produtor, conhecer detalhadamente o que o outro está fazendo pode mudar o seu negócio”, diz Kluthcouski. Ele dá como exemplo de difusão da tecnologia o que acontece na fazenda Santa Brígida, em Ipameri, Goiás, que pertence à produtora Marize Porto Costa. A fazenda tem funcionado como uma vitrine por causa do projeto batizado com o nome da propriedade, sistema Santa Brígida, cuja produção vem alcançando a excelente marca de 16 arrobas de boi por hectare por ano há três safras e caminha para 20 arrobas por hectare. “A fazenda Santa Brígida embala milho, sorgo e silagem na forma de boi gordo, e ainda sobra grão”, diz Kluthcouski.


Carlos viacava:para o pecuarista,a integração é uma experiência na qual há riscos, mas eles são calculados

Desde que o sistema de integração começou a ser implantado em 2006, são realizados dias de campo todos os anos na Santa Brígida. Já passaram por esses eventos 12 mil pessoas. A maior parte era constituída por produtores da região e estudantes das ciências agrárias. “Essa presença mostra como há interesse em tecnologias, apesar do pecuarista ser menos reativo que um agricultor”, afirma Kluthcouski. Para ele, o convencimento é uma tarefa lenta na pecuária. “O produtor de boi leva uns quatro anos para se convencer de uma tecnologia do porte da integração, que significa mudar seu sistema de produção.”

Mas há exceções nessa história. O empresário paulista Carlos Viacava, que produz 700 touros nelore mocho por ano, não levou muito tempo para começar o seu projeto. Nesta safra, dos 1,4 mil hectares da fazenda Campina, em Presidente Venceslau, no interior de São Paulo,  ele cultivou 450 hectares de soja. O rendimento foi de 40 sacas por hectare, o que não lhe agradou. “Queria mais, mas enfrentamos 32 dias de veranico e não há como ser eficiente sem chuva”, diz Viacava. Mesmo assim, no dia 10 de março, a fazenda recebeu cerca de 100 pessoas para o primeiro dia de campo, cuja estrela foi o sistema de integração.  “Ele ainda é uma experiência na qual estamos correndo riscos, mas bem calculados”, diz Viacava. O dia de campo foi realizado em parceria com a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), de Presidente Prudente  (SP), e com a Cocamar, cooperativa baseada em Maringá,  que possui 12 mil associados  espalhados pelo Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. “A Cocamar está muito interessada em que seus associados do interior paulista invistam na integração”, diz Viacava. “Por isso, insistiram no dia de campo.”