E agora? Produtores de Goiás não sabem onde colocar safra de grãos

A goiana Rio Verde chega a brilhar de tão rica que é. O seu povo vive em torno do agronegócio e muita gente ali só faz as contas, compra ou pensa em agrodólares. As picapes, renovadas a cada final de safra, estão por todos os lugares, são o sonho de consumo de nove entre dez jovens e mostram nas quatro rodas a tração agrícola deste município, líder em produção de grãos do Estado.

A safra, aliás, é tão farta que agora os cinco mil produtores rurais da região não têm onde estocar parte do 1,3 milhão de toneladas de soja da safra 2009/10 e do milho “safrinha”, a ser colhido em 40 dias. Como se diz por lá, a safrinha não é mais aquela… E não é mesmo, pois só no sudoeste goiano foram plantados 220 mil hectares e a produtividade deve ultrapassar 100 sacas por hectare.

O problema não é a falta de armazéns, mas o fato de eles estarem abarrotados com 180 mil toneladas de milho do governo que já foram vendidos à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e permanecerão por ali sabe-se lá até quando. Literalmente sentados sobre uma safra com destino incerto, os agricultores aguardam uma decisão oficial. Caso contrário, nem mesmo a riqueza da região será capaz de evitar perdas de rentabilidade maiores do que as já registradas.

RIQUEZA X PROBLEMA

A rica região de rio verde contabiliza problemas de logística e armazenagem da safra recorde de grãos

Antonio Chavaglia e Aguilar Fernandes Mota representam a força bilionária dos produtores rurais da região de Rio Verde. Presidente e vice-presidente de operações da Comigo (Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano), estão preocupados e cansados de esperar.

Desde novembro do ano passado eles pedem a remoção dos estoques excedentes de milho de seus armazéns, que ocupam a capacidade máxima de armazenamento, que é de 880 mil toneladas. “Simplesmente, não sabemos o que vai ser dessa safra. Não existe espaço suficiente para armazenar parte da soja e a situação tende a piorar com o início da colheita do milho da safrinha, que na verdade é uma baita de uma safrona”, diz Mota. Segundo ele, 120 mil toneladas de milho da safrinha podem ficar a céu aberto por conta do problema, o que implicará menor rentabilidade do milho para o produtor. “Ele deixa de vender o milho para o governo no preço mínimo de R$ 17,40 a saca para vender em nível de mercado a R$ 13.”

Boldrin: “Só precisamos de uma política agrícola eficiente. A produção nós garantimos”

Os preços inferiores do milho estão atingindo o setor como um todo, em várias regiões produtoras, e, segundo Chavaglia, isso limita o interesse de venda, deixando os produtores a ver navios e contabilizando prejuízos. Em Rio Verde, o que piora ainda mais a situação são as péssimas condições das rodovias, que encarecem o frete (R$ 6 por saca na região, enquanto na maioria das outras regiões é R$ 4 por saca). “O governo tem que tirar este milho do País com urgência ou a safrinha ficará ao relento.

Uma das possibilidades seria escoar a produção dos outros estados, já que o frete daqui é mais caro, e usar o milho que está nos armazéns de Goiás para abastecer o país ou realizar o leilão de PEP (Prêmio por Escoamento da Produção), que dá subvenção ao escoamento.” A demanda de milho para o mercado doméstico é de 3,5 milhões de toneladas, segundo o Ministério da Agricultura. No dia 16 de abril, o governo anunciou o leilão de PEP e prometeu iniciar a retirada de 175 mil toneladas de grãos de Goiás, dos quais 68 mil toneladas sairão do sudoeste.

Para os produtores, “ainda é pouco e vai demorar”. Vicente Teixeira da Silva, gerente de desenvolvimento estratégico da Superintendência da Conab em Goiás, garante que não levará tanto tempo. “Acreditamos que até o início de maio estas 175 mil toneladas comecem a ser retiradas dos silos. Invariavelmente, devido a esta grande safra, é possível que o governo também faça outras intervenções para viabilizar a comercialização, como aumentar o PEP.”

A situação tem sido desconfortável também para as autoridades. Na abertura da TecnoShow Comigo 2010, feira de negócios realizada em Rio Verde, o governador Alcides Rodrigues foi sabatinado pelos produtores locais e prometeu esforços, principalmente na questão das estradas da região. Em algumas delas, como a BR 060, que liga Rio Verde a Goiânia, as obras já começaram. “Tem sido um tormento trafegar por estas estradas. Deslocar a produção então, nem se fala”, protesta o agricultor Olinto Norberto Sandri.

Protesto: pai e filho reclamam da falta de infraestrutura

Ele e o filho Diogo plantam soja, milho, e sorgo em Jataí. Chegaram à região nos anos 80, vindos do Sul do país, sem nenhum alqueire de terra e hoje cultivam dois mil hectares próprios. “Trabalhamos duro aqui, investimos e produzimos uma grande safra de grãos. Agora, cadê o governo para nos ajudar na comercialização e no transporte?” Seu colega Adair Armando Boldrin, um dos maiores produtores da região de Rio Verde, com nove mil hectares cultivados com soja, milho e girassol, faz coro às reclamações. “Só precisamos de uma política agrícola eficiente, que dê sustentação às zonas produtoras.

Depois disso, nós garantimos altas produtividades.” Assim como estes produtores transformaram Rio Verde em uma potência, não é de duvidar que a sua produção quebre recordes constantes. A pergunta que fica é: o que o governo pensa disso?