Almir Sater é conhecido por sua faceta de cantor, compositor e ator. Mas, além dessas atribuições, ele tem outra aptidão: a de fazendeiro. Engana-se, porém, quem pensa que ele nasceu na zona rural. Sater é natural de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Seu pai sempre foi urbano, mas ele, desde pequeno, adorava visitar as fazendas dos tios e do primo, Silas Paes Barbosa, com quem aprendeu tudo sobre pecuária. Costumava pedir ao pai que comprasse uma propriedade rural, mas o patriarca respondia: “Deus me livre. Quando você crescer, arruma a sua e eu vou lá passear”. Foi exatamente o que aconteceu. Hoje, o cantor é dono de três fazendas, a Campo Novo, de três mil hectares, fica na região do Rio Negro; a Morraria, em implantação, tem mil hectares e fica em Maracaju, mesma cidade em que se encontra a Lucerito, propriedade de 600 hectares. Nas três localidades, ele se dedica à pecuária de corte, mas o motivo que o levou até lá foi outro. “O Pantanal para mim é paixão. Fui para lá pelo mato. Gosto de escutar a conversa dos peões na roda de mate”, diz.

Hoje, o violeiro tem 600 matrizes de nelore. A cria se concentra na fazenda Campo Novo e a engorda nas outras duas propriedades. Nos últimos anos, o cantor aderiu ao Intervet, programa da central Lagoa da Serra, em que as inseminações são feitas através da sincronização de cios. “Isso concentra o nascimento em uma mesma época, o que facilita a gestão”, explica. O pantaneiro também fez uma experiência com cruzamento industrial de aberdeen angus e nelore e obteve 62% de aproveitamento. “Foi um sucesso. Os animais têm se adaptado bem, apesar do calor,

das distâncias e das pernas mais curtas

para atravessar águas. Têm se mostrado

bons nadadores”, comemora.

De jeito simples, Sater adora uma boa prosa. Tanto que antes de comprar a Lucerito, costumava brincar com o primo Barbosa, cozinheiro de mão cheia, dizendo: “Eu quero ser vizinho do seu fogão, me avisa quando tiver alguma propriedade à venda ao seu lado”. O desejo se concretizou e o violeiro ainda foi contemplado pelo primo com uma tropa de cavalos curraleiros. Por sinal, cavalgar é outro grande prazer dele.

Na fazenda Campo Novo, a maioria dos cavalos foi presente. “Tenho um reprodutor crioulo que ganhei na época da (novela) Ana Raio e Zé Trovão e vários da raça árabe”, diz. Atualmente, ele tem cavalgado menos. Por conta da educação dos filhos, Yan e Bento, está morando na Serra da Cantareira, em São Paulo, apelidada por ele como “Mato Grosso da Serra”. Ali, o cantor encontrou o ambiente que tanto gosta: mata, bichos e a vizinhança de amigos, como o parceiro Renato Teixeira.

Toda a comida da casa (carne, arroz, embutidos) vem das propriedades em Mato Grosso do Sul e, no período de férias escolares, Sater vai com a família para lá. Conservacionista, ele defende a tese de que gado na medida certa (seis hectares para cada matriz) é extremamente benéfico para o Pantanal. “Lá, é muito quente. Os animais desbastam a grama, evitando incêndios. Quem tirou o gado de lá teve problemas por causa do fogo”, diz. Em relação às usinas que têm se instalado no Estado, Sater não é contra, mas defende a instalação fora da bacia pantaneira. No entanto, quando o assunto é o embargo à carne bovina brasileira, imposto pela União Européia, ele rebate: “A gente tem que se impor pela qualidade, parar de ficar se sujeitando a qualquer pigarro europeu”. Em suas propriedades, todo gado é rastreado, criado a pasto, convivendo com cervos, antas e capivaras, mesmo assim suas fazendas não entraram na lista das aptas a exportar. Embora defenda a música como profissão, para o amigo Renato Teixeira seu negócio é outro. “Ele gosta é de terra, fazenda, vender boi. Música para ele é prazer, muito mais que profissão. Mas ele é perfeito, o violeiro mais puro que eu conheço”, diz.