MONTAGEM EM SÉRIE: Olivério, vice-presidente da Dedini, dentro de uma coluna de destilação

“Com a perspectiva do barril de petróleo a U$ 200, o etanol será uma realidade para o mundo, não há como fugir disso.” Com essas palavras, em entrevista recente para a DINHEIRO RURAL, o ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues definiu o futuro da atividade canavieira no Brasil. Contudo, para que o álcool extraído da cana ganhe os mercados internacionais, todo o setor terá de exercitar, a cada dia, procedimentos mais sustentáveis e socialmente corretos. Nesse sentido, a “usina do futuro”, totalmente sustentável, será uma exigência do mercado externo. O que talvez os “gringos” não saibam é que essa “grande máquina” já existe e está disponível para quem quiser pagar cerca de U$ 150 milhões por ela. Ou seja, o mesmo custo de uma usina “padrão”. Pelo menos é o que garante o vice-presidente da Dedini, maior empresa do mundo no setor, José Carlos Olivério. A empresa já surfa na nova era do etanol. Entre os anos de 2000 e 2008, o faturamento cresceu 1.233%, saltando de R$ 120 milhões para R$ 1,6 bilhão ao ano. E, segundo Olivério, o melhor ainda está por vir. Isso porque ele apresentou, no mês passado,

uma nova geração de usinas, totalmente voltadas para a redução de gastos e incremento de novos produtos. E acreditem: as novas “máquinas” além de superavitárias em água, fabricam até o fertilizante que consomem. “Estamos inaugurando uma nova era no etanol”, diz.

Toda a nova tecnologia desenvolvida pela Dedini está fundamentada em diversos sistemas de reaproveitamento de sobras. Até pouco tempo atrás, gastava-se 1.800 litros de água captada de rios, lagos ou do próprio sistema para que fosse possível processar uma tonelada de cana. A essa conta, ainda somavam-se outros 700 litros extraídos da própria planta, totalizando 2500 litros de água para cada mil quilos colhidos.

ECONOMIA – Para uma usina de tamanho padrão, capaz de processar 12 mil toneladas ao dia, eram necessários 720 milhões de litros de água por mês. Hoje, por incrível que pareça, a “usina do futuro” exporta para a sua própria utilização em outras áreas industriais cerca de 108 milhões de litros d’água por mês. “Sem necessitar retirar uma gota do abastecimento”, diz Olivério. Como? É o que veremos a seguir…

Logo após ser descarregada, antes de ser moída, a cana passava por um processo de limpeza, a chamada “expurga”. Nesse ponto eram utilizados os 1.800 litros de água para fazer todo o trabalho. “Mas hoje conseguimos fazer a expurga usando outros métodos, eliminando a captação de água inicial”, explica Olivério. O segundo passo, de acordo com o executivo, foi identificar onde seria possível reter sobras de água que evaporavam do sistema. “E essa foi a grande tacada, porque conseguimos reaproveitar cerca de 300 litros de água por tonelada de cana, implementando novas etapas de produção”, avalia.

Segundo explica o vicepresidente da Dedini, não seria sustentável implantar um novo patamar para o uso da água e esquecer de outras questões ligadas ao meio ambiente. “Uma usina é como um organismo e tem de ser pensada como um todo e não isoladamente”, pondera. No horizonte, portanto, dois problemas a serem solucionados: o que fazer com a vinhaça e com as cinzas das caldeiras. O jeito encontrado foi agregar valor ao que era considerado praticamente um lixo industrial.

FUTURISTAS: novas usinas são modernas até na aparência

METAS – No alvo, antigos conhecidos: a vinhaça, cujo descarte em rios é considerada crime ambiental, e as cinzas das caldeiras que produzem energia. “Com o reaproveitamento da água a vinhaça ficou desidratada e concentrada”, diz. Misturada com as cinzas formaram um fertilizante patenteado de ‘Biofom’. “Com isso a usina do futuro produz quatro ‘bioprodutos: bioetanol, bioenergia, biofertilizantes e biodiesel”, comenta. “No intervalo das lavouras de cana é costume plantar soja e toda colheita é trocada nas tradings por óleo”, explica. Como o biodiesel é uma mistura de óleo com etanol, as novas usinas “nascem” preparadas para fabricar todos esses produtos. “E ainda tem gente que diz que a atividade não é sustentável”, pondera o executivo.

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