Candidata do PT à Prefeitura do Rio de Janeiro, a deputada federal Benedita da Silva diz que não vê “fracasso” na estratégia do campo progressista e admite diálogo com o presidente da República, Jair Bolsonaro. Confira abaixo a entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo.

Qual deve ser a prioridade do novo prefeito ou da nova prefeita no âmbito da pandemia?

É importante que a gente faça uma testagem em massa. E ela deve ser acompanhada de rastreamento, porque tem os sintomáticos e os assintomáticos. Estamos vivendo uma situação na saúde da cidade em que temos 350 mil pessoas na fila para um diagnóstico, para uma consulta. É preciso que no caso da Clínica da Família, que é a porta de entrada, a gente reabra as que estão fechadas e contrate médicos de especificidade para outras doenças.

A senhora defende o fim da administração de hospitais por meio das Organizações Sociais, envolvidas em tantos escândalos de corrupção?

Sim. Para que a gente não crie nenhum colapso na saúde, é lógico que pretendemos fazer gradativamente. A empresa municipal RioSaúde é quem vai assumir as compras, os contratos, a fiscalização. A gente vai botar a empresa para funcionar. Ela já existe, mas precisa exercer a sua função.

Como seria a relação da prefeita Benedita com o governo Bolsonaro?

A relação seria institucional, não poderia ser diferente do que se faz numa política de gestão, que acaba sendo compartilhada. Tem recursos que vêm do governo federal e que são universais: saúde, educação. Temos que tratar com o presidente sem nenhum problema institucional por parte da gestora. O povo o elegeu.

Depois de quase 40 anos de vida pública, como a senhora encara a atitude do Sérgio Camargo, que retirou o seu nome e o da ex-ministra Marina Silva da lista de personalidades negras da Fundação Palmares?

É uma ignorância total, uma provocação, uma perseguição. E é crime. Porque está colocada ali uma manifestação racista, porque não é só ter tirado da galeria da Fundação Palmares. Como pode colocar lá alguém que acha que a escravidão foi ótima para nós, e que o que existiu nos beneficiou? Aí chega esse moço, cumprindo os sentimentos que provavelmente adquiriu na escola do presidente, e faz essa coisa tremenda. Já entrei na Justiça contra esse moço. Penso que no dia em que o Bolsonaro deixar de ser presidente ele vai ter que responder a muitos processos do Brasil inteiro contra ele: preconceito, xenofobia, perseguição.

O PT foi vice de Eduardo Paes, e a senhora ocupou secretaria no governo Cabral. Como convencer o eleitor de que sua candidatura é de fato uma oposição àquele projeto deles para o Rio?

O papel da esquerda não é só fazer uma disputa por si. A esquerda tem um projeto de poder, de ocupação de poder. E tudo o que a esquerda tem é a preocupação com uma política pública que possa atender a todos. Principalmente os mais vulneráveis. Não é só num campo pura e simplesmente ideológico, de que sou esquerda ou direita. Para governar a cidade, tem que governar para todos.

Por que fracassou a união da esquerda?

Eu penso que não é uma questão de fracasso. Penso que o maior partido de esquerda dentro da América Latina é o PT. Temos os outros, que estão numa fase de crescimento, e agora com a política da não coligação em proporcional, da cláusula de barreira, os partidos se preocuparam em ter sua representação municipal e deixar para que a gente faça uma aliança mais sólida num segundo turno.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.