“Os brasileiros e os argentinos devem se unir para criar empresas de porte global”

Gustavo Grobocopatel

Há exatos três anos, o empresário argentino Gustavo Grobocopatel anunciou, em entrevista exclusiva à DINHEIRO RURAL, que estava à procura de sócios no Brasil. Naquele momento, sua visão era clara. “O Mercosul será o grande abastecedor mundial de alimentos”, dizia ele. “Para isso, brasileiros e argentinos devem se unir e criar empresas de porte global.” Naquele momento, Grobocopatel era um dos maiores produtores de soja da Argentina e sua empresa, o grupo Los Grobo, faturava pouco mais de US$ 100 milhões por ano. Ele fez várias visitas ao País, mas o sonho de uma parceria não decolou por duas razões. Primeiro, porque o agronegócio nos países vizinhos tomou direções opostas – aqui entrou em crise, com o real forte, enquanto disparou na Argentina, com o peso desvalorizado. O segundo motivo era o apego excessivo dos produtores brasileiros ao “controle”. No mês de março deste ano, no entanto, Gustavo Grobocopatel, que já fatura US$ 400 milhões por ano, finalmente encontrou os sócios que há tanto tempo procurava. São os jovens executivos da PCP, a empresa de participações dos ex-sócios do Pactual, liderados pelo banqueiro Gilberto Sayão. Antes dessa parceria, Sayão também já havia revelado à DINHEIRO RURAL seu interesse de investir no agronegócio, apostando no potencial de valorização da terra. “É um ativo cada vez mais escasso num mundo faminto por commodities”, dizia ele.

Esse casamento entre o grupo Los Grobo e a PCP nasceu com um dote de US$ 100 milhões. Esse é o valor que os brasileiros estão aportando na joint-venture, em que serão minoritários. Gustavo Grobocopatel, que terá o controle, usará tais recursos para adquirir áreas destinadas à produção de grãos no Brasil – especialmente soja e milho. Embora nenhuma fazenda tenha sido adquirida, um dos alvos do grupo é Mato Grosso, onde Gilberto Sayão já tem uma fazenda. Além disso, estão sendo visitadas áreas no Maranhão, Piauí, Tocantins, em Goiás e Minas Gerais. Com as aquisições, esperase um salto na produção do grupo Los Grobo, que processou mais de um milhão de toneladas de grãos no ano passado, ocupando 160 mil hectares de terras na Argentina, no Uruguai e no Paraguai. “Com o investimento no Brasil, podemos duplicar a produção em dois ou três anos”, prevê Grobocopatel.

Aliás, esse é um diferencial do Los Grobo, que foi a primeira empresa agrícola a obter, no mundo, a certificação ISO 9001. Além de utilizar mais terras arrendadas do que próprias, a família Grobocopatel criou métodos inovadores de produção, como o rodízio de tratores e colheitadeiras que são usados por vários agricultores, reduzindo custos no plantio e na safra. Grobocopatel demorou a chegar ao País, mas não veio a passeio. E, com os sócios que tem, não será surpresa se, rapidamente, ele surgir entre os gigantes da agricultura nacional.