No início de junho, o jornalista Ibiapaba Netto assumiu a diretoria executiva da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR). A entidade representa as principais indústrias de suco de laranja do País, como Cutrale, Citrosuco, Louis Dreyfus, Cocamar e Alicitros. Juntas, elas respondem por mais de 90% do suco processado e das exportações do produto.

Em que medida o dólar valorizado ajuda a indústria exportadora da laranja?
Toda valorização é bem-vinda para os exportadores em geral. Contudo, mais do que esperar que o dólar se aprecie diante do real, a gestão de pomares e indústrias está voltada para a redução de custos.

Os Estados Unidos vão ser ainda, e por muito tempo, o principal concorrente do Brasil?
Não consideramos os Estados Unidos concorrentes. Todas as nossas empresas associadas possuem fábrica na América do Norte, e torcemos para que aquele mercado volte aos seus melhores níveis de consumo. Com isso, todos ganham.

É possível conquistar mais consumidores com concorrentes cada vez mais fortes, como as águas saborizadas, os energéticos e os néctares?
Sim. Uma das saídas é a construção de um consórcio entre indústrias e produtores, aprovado pelo Cade e com foco no mercado interno. A ideia é fazer um suco integral, longa-vida e de altíssima qualidade, cujo potencial pode chegar a 100 bilhões de litros.

De que maneira seria possível um reposicionamento do suco no mercado consumidor?
No Brasil, na verdade, não existe um suco integral com esses parâmetros. Criaríamos um novo mercado.

O setor ainda é carente de políticas de incentivo à produção?
Não, o governo brasileiro tem feito muito pela citricultura nos dois últimos anos, com diversas políticas públicas. Entre elas, a prorrogação da dívida dos produtores, os leilões Pepro e a Linha Especial de Crédito (LEC). O que falta é equalizar o setor para que não seja necessário auxílio do governo.

Como resolver o problema de caixa das empresas gerado pela necessidade de capital de giro?
Há um hiato de um ano entre a compra da laranja e a venda do suco. Não há hedge para isso. Porém, esse é um risco desse mercado e as empresas sabem como lidar com essa dificuldade.

A laranja vai continuar perdendo espaço para a cana nas tradicionais regiões produtoras?
Algumas regiões têm sofrido com o alto custo gerado pela infestação de doenças, como o greening. Mas, por outro lado, regiões menos tradicionais têm crescido.

Qual é a principal barreira para que o Consecitrus não se estruture como um organismo forte?
O Consecitrus está em análise no Cade e hoje há uma discussão sobre a forma de representação dos produtores. A indústria tem a CitrusBR e esperamos que os produtores consigam uma fórmula para que o diálogo avance.

A indústria vai firmar contrato de preço mínimo para a laranja, como ocorreu no ano passado?
A indústria não pratica contratos de preço mínimo. Cada empresa possui diferentes formas e modelos de contrato.

Qual o maior desafio da CitrusBR?
Há um tripé. É preciso gerenciar as demandas do setor, ficar em sintonia com as decisões do governo federal e, ao mesmo tempo, não perder o pé do que ocorre no mercado internacional.