Em 1960, o então presidente da República Juscelino Kubitschek sancionou o Decreto-lei nº 48.630 no qual estabelecia que o dia 28 de julho seria, dali para frente, o Dia do Agricultor. O ato foi não só uma homenagem ao centenário da fundação do Ministério da Agricultura por D. Pedro II, mas também aos profissionais do campo que se dedicavam à produção de alimentos no País. Mal sabia ele o quanto o agricultor evoluiria em sua profissionalização e na organização do setor nestes mais de 60 anos.

Alguns dados relevantes demonstram a evolução. Na década de 1960, a agricultura brasileira tinha foco em produtos tropicais. Café e cana-de-açúcar eram as principais culturas e ainda assim eram pouco tecnificadas com uso extensivo de mão de obra braçal e pouca previsibilidade do negócio. Com um portfólio de produção pouco diversificado, o País era importador líquido de commodities essenciais como algodão, lácteos e grãos, mercadorias que chegavam ao País com altas tarifas de importação. Além disso, a sobrevivência do setor dependia de alta intervenção do governo, que controlava estoques e preços.

Essa situação se manteve com relativos poucos avanços até meados da década de 1990 quando investimentos em pesquisa e desenvolvimento na agricultura tropical, redução das intervenções governamentais e estabelecimento de políticas liberais ganharam força. Como resultado, o Brasil deixou de ser importador líquido de alimentos para a posição de terceiro maior exportador global, alimentando mais de 800 mil pessoas em mais de 200 destinos. O crescimento foi ancorado em desenvolvimento de tecnologia de ponta como evolução da genética animal e vegetal, economia de escala e alta produtividade com sistemas que possibilitam colheitas de até três safras por ano.

Agora, a indústria está novamente em um ponto de inflexão. A demanda mundial por alimentos deve crescer em mais de 70% até 2050 segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e há poucos países no mundo em condições de prover essa oferta com tanta qualidade como o Brasil. Mas para isso, alertam especialistas, é preciso que o governo federal estabeleça um plano nacional de desenvolvimento do setor. Vale o adendo que se engana quem pensa que esse é o papel do Plano Safra. Este, é somente um plano de subsídio de crédito ao produtor rural e ainda assim deve ficar com um orçamento cada vez mais insuficiente para impulsionar o crescimento do campo.

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Dentre alguns pontos-chave na construção do plano estariam um sólido investimento em pesquisa e desenvolvimento, área que sofreu revezes significativos nos últimos governos, especialmente na gestão de Jair Bolsonaro. O desmonte atingiu até a Embrapa, referência global em pesquisas do agronegócio, com corte de orçamento que levou à redução de 65% dos cargos comissionados da entidade no início de 2022, medida que afetou técnicos e pesquisadores. A consequência pode ser dimensionada por um dado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mostra que o investimento em pesquisas agrícolas tem como média de taxa de retorno algo da ordem de 20% a 30%.

Outro ponto a se considerar é a construção de uma narrativa que fortaleça a reputação do agricultor e do alimento nacional no mercado global. Esforços mercadológicos e diplomáticos seriam essenciais para reverter a imagem de um agronegócio vilão do meio ambiente que está consolidada em mercados compradores relevantes como o dos países da Comunidade Europeia e que já está contaminando as relações com Estados Unidos e China, principal compradora das commodities agrícolas nacionais. Mas não há sinais de esforços do chefe da nação neste sentido e os sucessivos esforços de entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) acabam minados por dados que vinculam o agro a crimes ambientais.

O Brasil tem terra, água e clima favoráveis à produção de alimentos, tem técnicas estabelecidas de agricultura de baixo carbono como Integração Lavoura-Pasto-Floresta (ILPF) e plantio direto, tem tecnologia de genética como a que está permitindo o plantio de trigo em pleno Cerrado. Todo esse sistema tem sido aproveitado de maneira exemplar pelo produtor brasileiro que deve gerar um valor bruto de produção (VBP) de mais de R$ 1 trilhão em cerca de 350 milhões de hectares plantados. O dever de casa tem sido feito com esmero pelo agricultor que neste dia 28 de julho precisa ser parabenizado. Mas não basta um tapinha nas costas ou uma dúzia de palavras bonitas, o presente mais efetivo seria cuidar do desenvolvimento do setor da porteira para fora enquanto o produtor se concentra em fazer o que sabe: cuidar do seu negócio da porteira para dentro.