Rodrigo Santos, presidente da Monsanto do Brasil

No mês passado, o agrônomo Rodrigo Santos, 41 anos e presidente da Monsanto do Brasil desde o final de 2013, reuniu em um restaurante da capital paulista um grupo de jornalistas de várias partes do País e fez um anúncio: a multinacional americana, em nível mundial, quer se mostrar mais à sociedade. É uma novidade a mudança de postura da criadora da tecnologia Roundup Read (RR) da soja transgênica,
que a alçou ao topo da liderança global do mercado de sementes, com uma receita líquida anual próxima de US$ 15 bilhões. “Ao longo do tempo nos comunicamos com o nosso público, que somente no 
Brasil é formado por 500 mil agricultores”, diz Santos. “Mas, agora, falar com toda a sociedade é um grande desafio para a Monsanto, são 200 milhões de habitantes.” Identificada como a mãe dos produtos transgênicos, principalmente soja, milho e algodão, e por isso mesmo demonizada por ambientalistas e por uma parte dos cientistas, a Monsanto sabe que tem um longo caminho pela frente. No início de
dezembro, poucos dias antes do encontro com a imprensa, Santos recebeu a DINHEIRO RURAL, na sede da empresa, em São Paulo, para uma entrevista exclusiva.

DINHEIRO RURAL – Como vai ser a agricultura daqui para a frente?

RODRIGO SANTOS – A conta já está feita de que serão nove bilhões de habitantes no mundo, nas próximas três décadas, com cada um deles consumindo, em média, mais proteína do que no passado. Acho que a grande solução global para o aumento da produção de alimentos é ter uma agricultura de altíssima tecnologia e sustentável. Hoje, a agricultura já é completamente diferente da época em que eu frequentava a faculdade de agronomia, no final dos anos 1990, ou mesmo da praticada 16 anos atrás, quando comecei a trabalhar como técnico de campo na Monsanto. E, certamente, dentro de 15 anos será muito diferente do que é hoje. 

RURAL – Por onde vai passar essa mudança?

SANTOS – Vai passar, por exemplo, pela big data, na qual se trabalha com gestão da informação. Tudo será conectado a satélites, com informação em tempo real para a tomada de decisões precisas, a cada metro de uma fazenda. O modelo será de altíssima eficiência e precisão. Esse cenário representa uma grande oportunidade para o Brasil. O País pode fazer a gestão da floresta e da agricultura, preservando mais água, CO2 e qualquer  outro elemento que tenha valor. 

RURAL – O País não está atrasado nessa tarefa?

SANTOS – Sim, mas também é um novo modo de ver o mundo. Faço parte do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que reúne cerca de 70 CEOs de vários setores da economia, no qual discutimos muito o que fazer. A solução das questões não está apenas no governo, nas empresas ou nas organizações não governamentais, mas na junção desses três elementos. Na Monsanto, não temos a arrogância nem a pretensão de achar que podemos enfrentar e superar esse desafio sozinhos. 

RURAL – O produtor brasileiro está preparado para o futuro?

SANTOS – Quando tenho oportunidade de apresentar a agricultura brasileira fora do País, e isso acontece principalmente em Saint Louis (EUA), na sede mundial da 17 Monsanto, coloco o produtor brasileiro como uma das vantagens competitivas do País. Eu acredito nisso. No Brasil há dois modelos interessantes de negócio. No Cerrado, há grandes agricultores que constituem, na verdade, empresas rurais, e no Sul há um sistema fantástico que são as cooperativas, atendendo à necessidade de crédito, comercialização, insumos e assistência do pequeno produtor. O segundo modelo é o formado por jovens empreendedores, com 40% abaixo de 42 anos. Além disso, há um fluxo grande de filhos de agricultores estudando engenharia agronômica, administração, ou outras engenharias, para voltarem para as fazendas. Isso não ocorre nos Estados Unidos, por exemplo, onde os filhos de agricultores estão estudando medicina, ou alguma outra coisa, para viverem nas cidades. 

RURAL – Atualmente, quanto da inteligência que a Monsanto leva para o campo é desenvolvida no Brasil?

SANTOS – Temos cerca de 480 pessoas trabalhando no Brasil, somente no desenvolvimento de novos híbridos e variedades de sementes, porque não se consegue adaptar as tecnologias do clima temperado diretamente para as áreas tropicais. Investimos muito no País e isso tem nos ajudado bastante. O que talvez não fizemos com mais clareza foi uma comunicação eficiente e aberta de nossos passos. 

RURAL – Há uma nova postura em relação a isso?

SANTOS – A Monsanto sempre foi uma empresa focada em agricultura, com mais de 100 anos. Só no Brasil trabalhamos com 500 mil agricultores. No entanto, nos dias atuais, não são somente os agricultores que formam o público da empresa, e sim os 200 milhões de habitantes do País. Falar diretamente à sociedade é um grande desafio para a Monsanto, em nível global. Costumo imaginar que, quando os pesquisadores americanos descobriram a biotecnologia dos transgênicos, eles saíram do laboratório e foram para o cafezinho já pensando no Prêmio Nobel, porque a tecnologia é fantástica. Talvez, o que eles não tiveram na época foi a compreensão do desafio em como comunicar isso. Mas, daqui para a frente, dialogar mais com toda a sociedade é o grande desafio para a Monsanto.

RURAL – O que deve acontecer daqui para a frente, em relação às tecnologias de agroquímicos?

SANTOS – Em especial no Brasil, com sua agricultura tropical, onde há incidência de doenças e de pragas muito maior que nas regiões de clima temperado, sementes e agroquímicos devem caminhar juntos, mas com mais eficiência. O que vai acontecer é a agricultura de precisão para defensivos agrícolas. No futuro, a tecnologia vai permitir saber onde há uma planta daninha e aplicar o defensivo no ponto exato, somente no alvo.

RURAL – Os produtos biológicos entram nessa conta?

SANTOS – Sim. O uso de biológicos, que são agentes naturais, mas são inseticidas e herbicidas, vai crescer dramaticamente nos próximos anos para serem usados em larga escala. 

RURAL – Serão a saída para uma conversa mais amigável com a sociedade?

SANTOS – Sem dúvida podem ajudar. Mas os biológicos não são substitutivos. Faço com eles um paralelo entre defensivos agrícolas e remédios. Eu gostaria de não usar remédio alopático, mas somente homeopatia. Porém, em várias situações isso não é possível. A questão é como usar o remédio na dose adequada, com recomendação médica, na hora certa. Não se faz automedicação com superdosagem para tentar resolver de vez um problema de saúde. Com os defensivos agrícolas é exatamente a mesma coisa. 

RURAL – O glifosato, que já possui plantas resistentes a ele, é um caso de mau uso de tecnologia?

SANTOS – O glifosato, assim como outros herbicidas e fungicidas, tem a mesma dinâmica. É preciso utilizar diferentes formulações e princípios ativos para evitar resistência. A diversidade biológica faz com que já exista inseto ou planta resistente a qualquer inseticida ou herbicida já colocados no mercado ou que venham a ser colocados no mercado no futuro. Eles já estão na natureza. O que acontece é que, quando não se faz um manejo adequado, aquela planta ou inseto que é resistente se multiplica. Ou seja, o produtor  seleciona a resistência. O manejo da resistência é fundamental no agronegócio há alguns anos e vai continuar sendo. 

RURAL – A má gestão dessa questão tem sido por falta de orientação ou de educação do agricultor?

SANTOS – Acho que é dividido. Vou dar o exemplo do glifosato. É tão simples fazer o plantio direto de soja RR que o agricultor diz “eu só quero fazer isso”. Entendo que é melhor, mais rentável no curto prazo e mais simples, mas é preciso fazer o que é mais complexo, mais difícil. É preciso ser rentável no longo prazo. O papel de empresas como a Monsanto, e as demais do setor, como Syngenta, Bayer, é educar, mostrar a importância do longo prazo. A maior parte dos agricultores tem consciência de que é preciso plantar 20% de área com sementes convencionais e 80% de transgênicos para preservar a tecnologia, mas, se há parte dos agricultores que não está fazendo isso, o processo está em risco.