Reforma no campo: produtores se mostram otimistas com as promessas de modernização das lavouras brasileiras, feitas por Dilma Rousseff

As duas vitórias eleitorais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram recebidas com ceticismo pelo agronegócio brasileiro. Enquanto o setor aumentava sua participação na economia, não se vislumbrava uma saída para antigos problemas que afligiam o campo. Eleita presidente, Dilma Rousseff tem recebido uma acolhida bem mais amistosa dos produtores, apesar de não ter sido bem votada no Centro-Oeste. Uma parte da receptividade positiva se deve aos números pujantes do setor. Outra, à expectativa de que a atividade no campo se manterá aquecida e que a sucessora de Lula desatará alguns nós históricos que travam o crescimento da agricultura nacional. O programa de Dilma traça um cenário ambicioso para o setor, com planos que a longo prazo deverão tornar a agricultura brasileira mais moderna, sustentável e competitiva, com políticas agrícolas para todos os segmentos. Para alcançar esse objetivo, um dos pontos-chave é ampliar a oferta de crédito para o médio produtor, que na avaliação da equipe de transição está em situação pior do que a dos pequenos e grandes, que já contam com fontes específicas. Outra prioridade é o fortalecimento da cadeia de distribuição, sustentada em empresas nacionais, bem como a criação de corredores logísticos e melhoria na malha viária. A meta é a liderança mundial na produção agrícola, elevando sua influência na formação dos preços das commodities em relação às tradings internacionais que hoje dominam o mercado brasileiro e têm mais influência sobre os preços do que os produtores. “O Brasil sabe plantar, agora precisa vender”, disse Alessandro Teixeira, coordenador-executivo do programa de governo. Como referência, cita os grandes frigoríficos brasileiros que, fortalecidos por aportes bilionários do BNDES, hoje detêm fatia significativa do mercado mundial de carnes.

O maior obstáculo à meta é ampliar a produção nacional de insumos agrícolas e reduzir a dependência de fertilizantes importados, que representam cerca de 65% do consumido no País. A Petrobras já anunciou investimento de R$ 2 bilhões numa fábrica, mas não deve atender à demanda pelo produto. Há ainda a necessidade de se aprovar um novo marco regulatório para o setor mineral que obrigasse as empresas com autorização para explorar jazidas de potássio e fósforo – principais matérias-primas de defensivos – a efetivamente explorar suas reservas. Hoje o Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes, mas responde por apenas 2% da produção mundial. Mas a definição da nova legislação dependerá da aprovação do Congresso Nacional. “O Brasil está muito atrasado no combate a esse problema”, observa Cesário Ramalho da Silva, presidente da Sociedade Rural Brasileira.

 

Desatando nós: logística, fertilizantes, pesquisas e crédito estão entre as prioridades do novo programa de governo para a agricultura

Foco de conflitos esporádicos entre o agronegócio e o governo, a revisão do índice de produtividade rural também deve ser retomada por Dilma. A presidente eleita anunciou que pretende atualizar o cálculo, datado dos anos 1980, com base em critérios definidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Somos contra, mas vamos aguardar o resultado do trabalho”, disse Silva. Por outro lado, o setor pode se interessar por inovações do programa para o problema do crédito. A partir do ano que vem, linhas de financiamento devem ser modificadas para atender agricultores de médio porte. A avaliação dos coordenadores de Dilma é de que esse segmento não tem acesso ao capital como os grandes produtores nem são contemplados pelas linhas destinadas às pequenas propriedades rurais. “Ficaram num nicho intermediário, descoberto”, avalia Teixeira.

Cesário Ramalho: presidente da SRB defende cautela na polêmica revisão dos índices de produtividade rural

 

Os produtores médios também devem ter maior acesso e capacitação para exportar. Para driblar o acesso difícil ao crédito dos bancos oficiais e privados, o plano pretende fortalecer as cooperativas de crédito, que teriam papel preponderante de apoio ao segmento. O programa de governo contempla ainda a transição da agricultura brasileira para um modelo de baixo carbono. Segundo Teixeira, os órgãos de extensão rural ficariam encarregados de assistir produtores a adotar medidas sustentáveis do manejo à colheita. A agroindústria fecharia a cadeia com processos verdes. Os coordenadores do programa sustentam que a adoção do modelo é fundamental para garantir a competitividade da lavoura brasileira no futuro. “Precisamos nos adiantar aos europeus, que começam a exigir um padrão de sustentabilidade na comercialização dos produtos agrícolas”, explica.

Médios produtores devem receber programas de extensão e linhas de crédito específicas

Ajustes no modelo de financiamento rural, com fortalecimento das cooperativas de crédito

Consolidação de um modelo brasileiro de agricultura de baixo carbono em todos os elos da cadeia

Fortalecimento de empresas nacionais de distribuição, ampliando sua influência na formação de preços internacionais

Revisão dos índices de produtividade com base em estudo técnico coordenado pela Embrapa

Retomada de jazidas não exploradas de potássio e fosfato e estímulo à criação de uma indústria nacional de fertilizantes

Investimentos em corredores logísticos, com ampliação da malha viária e criação de hidrovias,