Uma espécie de “salada ideológica” se repete nas disputas nas eleições 2020 a prefeito em diversas cidades do interior paulista, com partidos de diferentes tendências, e até adversários ferrenhos no plano federal ou estadual, se unindo para conquistar o Executivo municipal. As campanhas alegam que, na eleição para prefeito, o eleitor leva em conta, mais do que o partido, a pessoa do candidato.

Em Sumaré, na região de Campinas, o prefeito Luiz Dalben, do Cidadania, formou uma coligação para disputar a reeleição com partidos de diferentes perfis ideológicos. Além do Republicanos de seu candidato a vice, a chapa reúne PT, PSL, PSDB, PSB, DEM, PP, Solidariedade, PSD e PL.

“Fomos vice do Dalben em 1996 e 2000, depois governamos com José Antonio Bacchim (2005 a 2012), e eles de vice. Lançamos candidatos desde 1982, mas neste ano não tínhamos quadro disponível e era natural a aliança”, afirma o presidente do PT, Roberto Vensel. “Assumi um ano antes de Jair Bolsonaro se eleger presidente (então pelo partido), sou cristão, contra ideologia de gênero. A aproximação agora é com o Luiz, não pedimos bênção ao PT nem ele a nós”, diz Alisson Chuma, presidente do PSL local.

“O protagonismo desses partidos na disputa presidencial os fez manter distanciamento, para fidelizar o eleitor e até para construir uma nova candidatura presidencial”, diz o cientista político da Unicamp Henrique dos Santos Curi, especializado em partidos políticos. Segundo ele, se em 2016, 9,5% das chapas encabeçadas pelo PT incluíam o PSL, agora são só 0,5%. Do outro lado, coligações do PSL com o PT caíram de 28,5% para 1% pelo País no período.

Antagônicos nas esferas estadual e federal, PT e PP dividem o mesmo palanque em Araraquara. O petista Edinho Silva, atual prefeito e candidato à reeleição, trouxe para sua chapa como candidato a vice-prefeito Damiano Barbiero Neto, presidente local do PP, um partido de espectro direitista.

A campanha de Edinho afirma que ele está apenas repetindo a fórmula da eleição de 2016, quando se elegeu prefeito tendo o empresário Damiano Neto como vice. Diz, ainda, que a chapa também está coligada ao PCdoB, aliado tradicional do PT.

A chapa encabeçada pelo petista, no entanto, reúne outros partidos do “Centrão” que, no plano federal, apoiam o governo Jair Bolsonaro. Além de PP e PCdoB, fazem parte da coligação PSC, PL, PSD e Solidariedade. Araraquara tem 177 mil eleitores e, além de Edinho, outros oito candidatos estão no páreo.

Em Taubaté, o candidato a prefeito pelo PSDB, Eduardo Cursino, fez aliança com o PSL. Bolsonaro deixou o partido, mas a legenda se mantém como principal adversária do PSDB, travando uma guerra política com o governador tucano de São Paulo, João Doria. Além do PSL, o PSDB de Taubaté compôs com outras siglas do “Centrão” que apoiam o governo Bolsonaro, como o PP, PTB, PL, PSD e Avante. Segundo Cursino, seus aliados formam um time com experiência para continuar cuidando de Taubaté, tradicional reduto tucano.

O PSDB também fez alianças com partidos do “Centrão” em Piracicaba, onde o prefeito, o tucano Barjas Negri, tenta a reeleição. Embora o candidato a vice, José Godoy, também seja do seu partido, a coligação de Negri inclui PP, PSC, Solidariedade, Cidadania, Podemos, PTB, PSD e Republicanos, partidos alinhados com o governo federal. Com 290 mil eleitores, Piracicaba ainda tem outros 11 candidatos, além de Barjas Negri, concorrendo à prefeitura.

Em São José do Rio Preto, o candidato do PSL, Marco Casale, tem como vice Terezinha Pachá, do PSB. Casale se declara bolsonarista. Em sua propaganda eleitoral incluiu vídeo da visita de Bolsonaro à cidade, em 2018.

Terezinha fez parte da chapa graças ao líder da legenda, o ex-prefeito Valdomiro Lopes, que tentou viabilizar a própria candidatura, mas não conseguiu. Para Casale, a opção nada tem a ver com a ideologia. “Valdomiro foi o prefeito que mais trouxe recursos para a cidade, por meio de projetos federais. As pessoas precisam ter suas necessidades atendidas”, justifica.