As Melhores da Dinheiro Rural – 2021
PAPEL E CELULOSE

Walter Schalka
Empresa: Suzano
Cargo: CEO
Destaques da gestão: redução da alavancagem com venda de R$ 1,5 bilhão em ativos que não são core na operação e projetos de redução de pobreza em comunidades onde atuam (Crédito:Divulgação)

Nem a queda nas cotações de papel e celulose na China, maior compradora desses insumos no planeta, afetaram de forma severa as empresas do setor no Brasil. E a Suzano tem conseguido se sair ainda melhor. Como a demanda sazonal tem sido abaixo do esperado, a empresa redirecionou seus esforços para outros mercados, principalmente Europa e Estados Unidos. Essa estratégia tem ajudado a manter o preço da celulose no patamar de US$ 780 por tonelada. E reforça a capacidade da companhia de se adaptar às flutuações do mercado. Por isso, a Suzano foi a vencedora na categoria papel e celulose no anuário AS MELHORES DA DINHEIRO 2021.

Parte do bom momento da empresa está relacionado aos recordes de venda. No ano passado, a empresa alcançou geração de caixa operacional de R$ 11,5 bilhões, alta de 63% em relação ao ano anterior. E manteve o ritmo em 2021. No segundo trimestre deste ano, apresentou Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) recorde de R$ 5,941 bilhões, alta de 42% na comparação anual. Isso porque a celulose, usada na fabricação de produtos de higiene essenciais, não sofreu uma disrupção na demanda por conta da crise sanitária como aquela identificada em outros setores. A indústria continuou produzindo de forma acelerada. “Hoje, mais de um ano e meio após o início da pandemia, somos uma empresa ainda mais fortalecida do que éramos no início de 2020”, disse Walter Schalka, CEO da companhia, a maior produtora de celulose do mundo.

A Suzano também concluiu recentemente a fusão com a Fibria, outra gigante do setor, em uma operação avaliada em US$ 14,5 bilhões. Como parte do processo de reestruturação, definiu uma estratégia de redução da alavancagem, vendendo R$ 1,5 bilhão em ativos non-core entre 2019 e 2020 e monetizando estoques excedentes, entre outras medidas. A meta é fechar o ano com alavancagem abaixo de três vezes o Ebitda, o limite da nova política de endividamento. Com a disciplina financeira serão feitos novos investimentos em infra-estrutura. É o caso da nova fábrica de celulose de eucalipto na cidade de Ribas de Rio Pardo, em Mato Grosso do Sul, que custará R$ 14,7 bilhões. Quando ficar pronta, no início de 2024, será a maior do tipo no mundo, com capacidade para 2,3 milhões de toneladas anuais.

A empresa está olhando além dos produtos que já tem em seu portfólio. “O consumo de celulose vai se expandir muito. Além de ter uma base renovável, reciclável e biodegradável, ela pode ser usada em diversas novas aplicações”, afirmou Marcelo Bacci, diretor-executivo de finanças e de relações com investidores. As possibilidades vão de canudos de papel e embalagens apropriadas para o delivery, capazes de conter líquidos, a tecnologias têxteis com base florestal e ao bio-óleo, que pode se tornar substituto de produtos petroquímicos no futuro. Alguns ainda estão em fase inicial de desenvolvimento e longe da viabilidade comercial, mas apresentam potencial. “Essa indústria tem um ciclo longo. Mas a Suzano tem quase 100 anos. Estamos acostumados”, disse Bacci.

Por fim, a Suzano quer assumir um papel de destaque quando o assunto são boas práticas de ESG (ambiental, social e governança). “O tema é muito caro a nós e está intrinsecamente ligado à nossa produção, que é sustentável”, afirmou Bacci. A empresa assumiu compromissos públicos até 2030, 14 metas que incluem a remoção de 40 milhões de toneladas de carbono da atmosfera, a redução em 70% dos resíduos sólidos e a conexão de meio milhão de hectares para a conservação da biodiversidade. Há também uma preocupação social. “Temos um plano ambicioso de tirar da linha da pobreza todas as comunidades dos entornos onde atuamos em até 10 anos”, disse Bacci.

Esse compromisso fez com que a Suzano se tornasse a primeira empresa da América Latina (e a segunda do mundo) a emitir títulos de dívida com compromisso de inclusão e diversidade, os chamados Sustainability Linked Bonds (SLB). O formato é diferente dos green bonds porque os recursos não são levantados com foco em um projeto específico, mas dão retorno aos investidores à medida que os objetivos estabelecidos são cumpridos. Uma das metas, por exemplo, determina que 30% dos cargos de liderança devem ser ocupados por mulheres até o final de 2025; hoje, são 19%. A primeira emissão foi em setembro de 2020, e uma nova captação foi realizada em junho deste ano. No total, os SLBs da Suzano somam US$ 2,25 bilhões.