O que a criação de cabras tem a ver com teatro? No caso do biólogo André Ferreiras, tudo. Afinal de contas ele é dono do tradicional Teatro Augusta, de São Paulo, fundado em 1973, e proprietário da empresa de genética de caprinos anglonubianos, a Porto Reserva, com sede no município de Porto Feliz (SP). Assim como profissionalizou o endividado teatro em 2002, pretende fazer o mesmo com os caprinos e transformar o setor em um grande exportador de sêmen e embriões para o mundo. Mas o projeto não será tarefa fácil de realizar. “Enfrentamos fortes barreiras sanitárias e não conseguimos vender nossas doses de sêmen e embriões de caprinos ao Exterior”, diz Ferreiras.

A razão para o bloqueio sanitário é a mesma levantada para a bovinocultura, a febre aftosa, que também afeta caprinos, ovinos e suínos. Países da América Latina vetaram a entrada da genética brasileira em seus territórios por temer a proliferação da doença. Mas nem isso diminuiu o ímpeto de Ferreiras, que investiu R$ 250 mil na construção de um laboratório para armazenar embriões e sêmen, inaugurado no mês passado. “Empresas da Venezuela e da Colômbia nos visitam quase todo mês, para comprar embriões, e ainda não podemos vender”, diz. “Já fiz um pedido junto ao Ministério da Agricultura para obter uma licença de exportação.”

Segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Caprinos (ABCC), do Recife, o Brasil possui atualmente um rebanho em torno de dez mil caprinos anglonubianos, sendo 1% desse total dedicado à produção de genética. Já em relação ao número de laboratórios de embriões e sêmen de caprinos existentes no País, Tomás Radel, presidente da ABCC, garante que são poucos. “Na Bahia temos apenas um, apesar de o Estado ser uma referência na caprinocultura”, diz Ferreiras. Atualmente, a Porto Reserva possui 400 embriões de matrizes e oito mil doses de sêmen congelado. Após a abertura do mercado internacional, Ferreiras espera dobrar esses volumes e atingir um faturamento próximo a R$ 1 milhão por ano. “Gostaria muito que a liberação para as exportações de embriões acontecesse ainda neste ano”, afirma. Enquanto isso, a Porto Reserva mantém como o seu principal negócio a venda de genética a partir de matrizes leiteiras e machos elite. Na fazenda, o comprador interessado em melhorar a genética de seu rebanho pode escolher entre 60 cabras solteiras, 150 fêmeas prenhas e 80 matrizes paridas. Além disso, o ator e biólogo ainda mantém um rebanho de 60 machos elite.

Segundo o criador, o grande diferencial desses machos elite é a seleção e o tratamento dos animais, que passam por um longo tempo de observação para se levantar o potencial reprodutivo dos cabritos. Os não selecionados não vão à venda. Já os bodes elite que sobraram passam a ter um calendário cheio de atividades. Para reforçar a musculatura, os animais são submetidos a andar em uma esteira e a nadar duas vezes por semana. Depois de um ano, os melhores participam de feiras de exposições. “Queremos nos tornar uma referência em genética de caprinos no Brasil”, afirma Ferreiras.

Outro projeto do biólogo com as cabras e os bodes acontece fora dos pastos. Formado em artes cênicas, ele pretende adaptar uma peça teatral e levar suas cabras ao estrelato. Nos últimos meses, ele tem se dedicado à adaptação do livro A cabra sonhadora, lançado pela editora pernambucana Cepe, para os palcos. “Já estamos criando a trilha sonora e espero estrear a peça no começo de 2014”, diz Ferreiras. “Juntar minhas duas paixões em um só lugar será um sonho realizado.”