Em um dia de agenda carregada, com divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em junho e o anúncio do parecer da proposta de reforma tributária por aqui, a volatilidade marcou os negócios no mercado de câmbio doméstico, com o dólar trocando de sinal várias vezes ao longo do pregão, para terminar a sessão em leve alta.

De um lado, havia a pressão altista vindo de fora, com o fortalecimento global da moeda americana, após o CPI de junho, de 0,9%, ter vindo acima do esperado (0,5%, segundo Projeções Broadcast), o que aumentou as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) possa antecipar o início da redução de compra de títulos (tapering). O mercado aguarda amanhã apresentação presidente do Fed, Jerome Powell, no Congresso americano para calibrar as expectativas.

Na contramão, jogaram a favor do real a estimativa de entrada forte de recursos para aberturas de capital de empresas na B3 (IPO), a perspectiva de alta mais intensa da taxa Selic por aqui, após declarações ontem no fim do dia do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, e a recepção tranquila ao parecer da reforma da tributária, do deputado Celso Sabino (PSDB-PA), antecipado pelo Broadcast.

No fim do dia, prevaleceu o sinal positivo. Com máxima de R$ 5,2227 (pela manhã) e mínima de R$ 5,1491 (à tarde, logo após divulgação do parecer de Sabino), o dólar encerrou a sessão em alta de 0,13%, a R$ 5,1809.

Segundo operadores, as dúvidas sobre a política monetária americana, os ruídos políticos domésticos, embora tenham ficado em segundo plano nos últimos dias, e o próprio receio quanto ao desenlace da reforma tributária ainda mantêm o real pressionado no curto prazo.

O parecer do deputado Sabino preservou a tributação de 20% sobre lucros e dividendos, mas trouxe uma redução mais aguda a alíquota base do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ), manteve a isenção para dividendos distribuídos entre empresas e para fundos imobiliários – pontos que agradaram os investidores.

O economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, ressalta que a queda da tributação sobre os fundos imobiliários é positiva, o que acabou contribuindo para o desempenho dos ativos brasileiros hoje. “Mas isso não quer dizer o mercado gostou do parecer. De dez bodes que tinham na sala, dois saíram. Ainda existem muitas dúvidas”, afirma Miraglia, para quem o mercado poder “ir melhorando” à medida que mais pontos ruins da reforma fiquem pelo caminho. “Quanto mais distante da proposta inicial do governo a reforma ficar, melhor para o mercado”.

O estrategista-chefe da Avenue Securities, Willian Castro, ainda vê uma janela favorável a ativos brasileiros nos próximos meses. As pressões inflacionárias nos Estados Unidos parecem transitórias e devem se dissipar. O Federal Reserve pode até ver espaço para começar reduzir mais cedo o ritmo de compra de ativos, mas não deve haver uma mudança repentina no discurso em relação à política monetária, avalia.

“A liquidez deve continuar alta por algum tempo ainda. As taxas dos Treasuries subiram, mas continuam ainda baixas”, afirma Castro. “Eu acho que ainda existe uma janela favorável por aqui, com a reabertura da economia. Depois, vai vir a eleição presidencial, com um cenário binário, o que vai gerar muita instabilidade”, afirma Castro.