A cautela com a cena fiscal doméstica e o fortalecimento global da moeda americana falaram mais alto nos negócios no mercado de câmbio na tarde desta segunda-feira, 16, levando o dólar a encerrar o dia em alta firme, na casa de R$ 5,28.

Pela manhã, a volatilidade tomou conta da taxa de câmbio, com o dólar alternando sinais. Logo após a abertura, a moeda americana aproximou-se do teto psicológico de R$ 5,30, ao registrar máxima a R$ 5,2962. Mas o dólar arrefeceu rapidamente e passou a trabalhar em terreno negativo, descendo até a casa de R$ 5,22 na mínima (R$ 5,2262). Segundo operadores, fluxos pontuais de recursos para aproveitar a arbitragem de taxa de juros local e externo e movimentos esporádicos de realização de lucros teriam dado fôlego momentâneo ao real.

Depois de andar de lado no início da tarde, o dólar ganhou força novamente, alinhando-se à alta da moeda americana em relação a divisas fortes e emergentes, em dia marcado por aversão ao risco. Indicadores econômicos fracos na China (vendas no varejo e produção industrial), que sofre com o avanço da variante Delta do coronavírus, avivaram temores de uma desaceleração da atividade global. Também pesou nos negócios a crescente tensão geopolítica, com o retorno relâmpago do Talibã ao poder no Afeganistão, após a retirada das tropas americanas.

Ao fortalecimento do dólar lá fora se somou a cautela com a questão fiscal doméstica, em meio às negociações da PEC dos Precatórios e a expectativa pela votação, amanhã, da reforma do Imposto de Renda na Câmara dos Deputados. Há certo incômodo também com os ataques do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal, embora não se vislumbre uma escalada da tensão político-institucional que provoque qualquer espécie de ruptura no regime. Bolsonaro afirmou no fim de semana, em rede social, que vai encaminhar ao Senado um pedido de impeachment dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.

Com tantos riscos no horizonte, os investidores preferiram se resguardar e ampliaram as posições defensivas na reta final dos negócios, o que fez o dólar à vista fechar em alta de 0,68%, a R$ 5,2807.

Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar americana frente a seis moedas fortes – operava em alta, ao redor de 92,600 pontos (perto das máximas). O dólar também avançava frente à maioria das divisas emergentes, com alta mais pronunciada ante o peso colombiano e o rand sul-africano.

Na avaliação do gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, o mercado segue muito na defensiva por causa dos ruídos políticos domésticos e da questão fiscal, com o temor de rompimento do teto de gastos. Isso impede a moeda brasileira de se recuperar, a despeito da expectativa de aperto monetário mais forte, confirmado hoje pelo Boletim Focus, com a mediana mostrando Selic a 7,5% no fim deste ano.

“O clima interno é muito carregado e está impregnado na formação da taxa de câmbio, que não deve ter alívio no curto prazo”, afirma Galhardo, que vê o dólar operando numa banda entre R$ 5,00 e R$ 5,30 nas próximas semanas. “Enquanto o Brasil não recuperar a credibilidade, com reformas, como a administrativa, e avanço das privatizações, vai ser difícil ver esse dólar cair.”

O head da mesa de câmbio e operações PJ da Wise Investimentos, Gustavo Gomiero, vê pontos favoráveis a uma reação do real, com privatização de Correios e Eletrobras, atividade econômica em recuperação e taxa Selic mais elevada, o que aumenta o diferencial de juros e pode atrair recursos.

Gomiero ressalta, porém, que há pressões internas e externas que afetam o desempenho da moeda brasileira. Por aqui, a questão político-institucional, que pode prejudicar a recuperação da economia. Lá fora, existe um ambiente de aversão ao risco, o que faz investidores correrem para a moeda americana. “Vemos essas posições antagônicas. E isso deixa o dólar bem volátil”, afirma.